13 de dezembro de 2007

5. a brisa do mar

Vivia

.........vagando

[em qualquer] via

[porque não].........via

....................................Lívia


Tragou, pigarreou e concluiu: terrible... Estava infame na verdade, ela nunca ia gostar de uma coisa dessas. Tá certo que também não ia ler mas se era sobre ela devia ter o jeito dela... As cores dela...Os olhos dela, um azul noturno tão indescritível, qualquer coisa assim, meio onírica... E todo um verde invocado pelo nome dela... Really really bad! Ela era crítica literária, era uma vergonha escrever uma coisa assim em nome dela! No fucking way! Toda ela indescritível... Toda ela escultural, toda movimento e dança...
Olívia. Gostava de falar o nome dela mais e mais a cada vez. Gostava de Ls e Vs e As, que são as letras mais femininas... Preferia Liv, era como a chamava. Mas sozinho, sozinho no quarto à noite por entre brumas verdes embriagantes, repetia muito Olívia, mesmo sem gostar do O inicial.

A primeira vez que viu Olívia não viu Liv e não viu nada: estava bêbado com a própria imagem sendo aplaudida por tanta gente e teria se atirado energicamente em quaisquer braços sorridentes. A primeira vez que viu Olívia não viu Liv e só viu Jake, muito sexy, que mandava uma rodada de margarita pra sua mesa e um sorriso. Sea tinha gostado do Jake, tinha sim, achado ele um tesão. Mandou um convite pra uma aula de dança contemporânea, sabe, pra agradecer a gentileza do drink, mas quem apareceu foi a mulher que ele levava à tiracolo.

A segunda vez que viu Olívia não viu Liv, só viu medo, parecia uma mocinha reprimida em demasia, tinha que ensiná-la a se distender e deu-lhe uma aula de alongamento, recomendando que ela voltasse, que gostaria que dançasse com ele e ela sorriu.

Na terceira vez não viu Olívia, já viu Liv... E houve mais dia nenhum em que não pensasse nela no instante de acordar e também uns minutos antes de cair no sono, até o fim de sua vida.

E realidade era que ela não merecia um poema tão infame! Mas as malditas mãos ficavam trêmulas, não escrevia nada que prestasse daquele jeito. Tragou novamente e tossiu. Girou o baseado pelos dedos, era hábil com isso... Gostava de ver a fumaça subindo em espirais por seus dedos e imaginava a mão em chamas internas... Sentia cansaço, a respiração estava um pouco difícil...

Não, ia mostrar nada a ela não, ela ia ficar meio convencida, ia ter certeza da Verdade absoluta desse momento e ia acabar a graça... A graça, todo mundo tem uma, a dela é a hesitação e a insegurança. Toda assim era ela, de andar vacilante, de beleza contestável, de olhos inquietos, de boca que ensaia o que dizer antes de se abrir. E insegura ela se apaixonaria mais fácil... Ah, ela ia ficar gostando dele sim, a menininha, in one way or in other... Não sabia bem ainda o que ia fazer quando ela gostasse, mas ia ficar feliz... E ia dar um jeito de deixá-la contente também.

Rasgou o poema, achou melhor escrever uma melodia, uma melodia, isso a traduzia melhor, melodia fugidia... Melodias vagueiam pelo ar... Tragou forte, prendeu a fumaça e tragou novamente... Teve uma queda de pressão, pensou em se sentar ao piano, mas deitou-se, adormeceu.

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