12 de dezembro de 2007

18. água mole, pedra dura

O Sea não pensou muito antes de fazer o que estava fazendo agora, teve uma ideia muito súbita e foi logo executando. Ele está descendo a rua exatamente agora, daqui a pouco vai parar num café e encontrar o Jake, vai falar alguma bobagem sobre o tempo, pedir uma dose de vodka, dizer mais alguma coisa simpaticamente inútil, vai beber o que acaba de chegar, uns dois goles pra tomar coragem, e vai perguntar ao Jake se tem programa pr’aquela noite...

“Nossa, Sea... Você tá pensando que eu tava afim de ficar com você de novo, é? Por que é que você achou isso?” – estava sorrindo sarcástico... Como assim por que? Não afim estava mesmo? “Mas... mas Sea, por que você acha isso, caramba!?” – falando baixinho pra não chamar atenção. O Sea não entendia. Pra que ser irônico? Estava jogando? Pra que? Àquela altura do campeonato não tinha sentido! E chegava a ser irritante, fazia com que se sentisse um pouco ridículo por estar procurando uma pessoa feito aquela. O Jake dissesse, please, estaria jogando, alguma coisa assim? Porque ele, Sea, não estava, não tinha tempo pra perder com isso. Tinha ido encontrá-lo porque gostou da noite que passaram juntos e não se incomodaria em passarem outra. Achou que o Jake podia ter tido a mesma opinião de-repente, mas ele não tinha, então deixasse quieto. Não queria, tudo bem, nem sempre a gente ganha. “Mas quem te falou que eu não quero? E quem é que tá jogando? Você é especulador pra cacete, né?!” O Sea começava a ficar impaciente: se era especulador, o outro era manipulador... e um pouco sádico também, fazer os outros passarem por isso era bem sádico. “E te custa muito sofrer um pouquinho pra me excitar?” Pensou que não, não custava nada não, talvez pudesse até ser bom, mas não ia dizer. “Vamos, Sea, fala aí... Você é todo estranho... Meio doente, meio... freak...” – chegava perto, punha a mão na cintura e mexia os dedos (dava cócegas!) – “Conta pra mim, vai... Você curte sofrer um pouquinho, né? Tá tudo bem, eu vou adorar te machucar”. What? O Sea nem entendia porque, mas só conseguia pensar em sexo selvagem, não queria falar nem ouvir mais nada, ficou até gasto com o numerozinho do outro. Quando era com a Liv, a única coisa que queria era estar junto e ouvir e sentir e ver... Mas o Jake não, o Jake era fechar os olhos e trepar. E ele era muito gostoso, pegada de macho mesmo, bem forte, nem entendia porque foi que a Liv passou tanto tempo sem ter tesão naquele homem e pensou inclusive que ela devia ter mentido. O Jake agora apertava o queixo do Sea, depois puxava seus cabelos pretos de leve e o Sea só conseguia morder os próprios lábios, nem pensava mais. Que fossem embora dali, era melhor. “E você tá achando que vai me levar pra cama, Siegfried?” Mas que homem complicado! Pra que aquelas perguntas estúpidas, mas que egocêntrico, todo mulher-fatal, cheio de olhares e se fazendo de discreto... Mas ia tomar uma resposta agora, e em muito bom-tom: “Olha, Jake, tudo bem, a gente vai pra cama se você quiser, mas só se você disser que quer mesmo. Não vou coagir ninguém”, ficou até quente depois, vermelho, bobeasse. E o Jake arregalou os olhos pretos, que viraram as maiores pedras pretas que já se vira. Riu, perdeu o rebolado claramente. Passava a mão pelo rosto, coçava a cabeça... e o Sea ficava olhando enquanto tomava mais um gole de vodka. “Vai tomar só isso mesmo, Sea? Não quer mais nada?” Ah, queria sim, queria mais coisa, mas era melhor não fazerem ali. “Eu achava que você era um cara menos direto, tou surpreso” e ele achava que o Jake seria menos artificioso, tinha pedido vodka porque achava que seria bom pra dar coragem, estava certo no final, não? Not easy... “Olha, Siegfried, veja bem: também gostei de ficar com você, o que não significa que a gente vá ter um relacionamento de verdade, né, faz muito pouco tempo que a Livi foi embora e isso mexe comigo bastante e aposto que com você também, acho até que isso de você me procurar deve ser pra fugir dela, mas tudo bem, a gente pode se distrair um com o outro e se divertir e coisa e tal. Mas é o seguinte, duas coisas: uma é que você não pague de meu namoradinho pela rua e outra é que se você falar mais alguma coisa em inglês, vai ter de receber passivamente umas porradas na boca, tá bom assim pra você, amor?” O Sea achou graça na macheza do outro, muito bofinho mesmo, muito bonitinho, dava vontade de rir; estava aliviado porque o joguinho de sedução tinha parado em tempo. E como não podia “pagar de namorado na rua”, fossem pra casa então, que era melhor.
O Sea não pensou muito dessa vez, mas a realidade é que se tivesse pensado, faria a mesmo coisa. Soube disso depois de algum tempo. 

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