O que era que o Jake queria era mistério, não dava pra saber nem com mil anos de especulação. He was movin in myterious ways... but not in time e não tinha cara de quem se atrasava, metódico do jeito que era. Se passava do horário mais de meia hora era de-propósito but Sea wasn’t that patient and wanted go away, o interesse nem era dele mesmo... Lá-lá-lá... Tarde melancólica, nem muito clara nem muito nebulosa, se olhava pro horizonte via uma coisa estranha se levantando lá no fundo, podia ser a poluição excessiva, podia ser uma voltinha da vida e um começo de dor: rosa e cinza. O Sea já se cansava da cadeira baixinha e do movimento da esquina-paranóia-delirante, gente querendo de tudo, sexo, viagem e outras coisas... e comprando de tudo, sexo, viagem e outras coisas. Era divertido ver, o Sea sempre gostava, menos hoje que tinha que esperar a boa-vontade do Jake, mas não ia mais não que não tava afim. Fez sinal pro garçom trazer a conta, levantou-se pra ir pagar, deu uma bela espreguiçada e passou o rosto pelo ombro pra limpar o soninho – he was bored! Mas quando pôs o primeiro pé na rua novamente, escutou um assoviozinho e quando foi se virar pra ver de onde vinha deu com o Jake bem no calcanhar e foi um susto! Mas que entrada triunfal, não!, pegar os outros por trás desse jeito!
“Pegar por trás? Não, não te peguei por trás não... Pegar por trás foi o que você fez quando seqüestrou a Olívia, hahaha!, Mas se você quiser eu te pego-de-jeito por trás outra hora. Mas já vou avisando que vai doer” – e ria! Essa era a recepção do primeiro encontro dos dois, uma provocaçãozinha de-nada, e foi uma coisa que passeou pela cabeça do Sea por muitos anos, o olharzinho preto e insolente do Jac, todo envolvido em ironia. Podiam se sentar? O Sea queria pagar uma cerveja já que da última vez (ou primeira?) o Jac pagou a margarita. “A gente vai sentar sim, mas você não vai pagar nada...” – chamou o garçom e pediu duas tequilas e uma água, o que fez o Sea se intimidar em pensar no teor da conversa (ele sabia que o Jac muito raramente se excedia com bebida) – “A nossa dinâmica é essa, amiguinho: eu sou o cara do dinheiro então eu pago, não é assim que você e a Livi dizem? Que eu gosto de pagar pelas coisas? Então...” e foi curioso, porque a primeira mensagem que o Sea decodificou disso involuntariamente foi dog-eat-dog; bateu do-nada a sensação que dá quando a gente ta andando pela rua e passa um carro que levanta muita terra e a terra vai entrando nos olhos e na boca e ressecando a pele e dando coceira e secura e pigarro. E o Sea começou a achar que nunca devia ter aceitado aquele encontro estúpido. O Jake tava quieto olhando os passantes, mas agora olhava o Sea, que teve de olhar de volta. O barulho da rua foi diminuindo, diminuindo, até que tudo ficou calmo demais. E o Jake não falava mas olhava e olhava e olhava, nem piscava, movia um pouquinho os globos dentro das órbitas mas sem parar de olhar... E não falava nada. Quando quase completos cinco minutos de silêncio gritante chegou o garçom com a bebida, o que fez com que o Sea se sentisse salvo, mas por pouco tempo, porque o Jake virou tudo num shot e retomou o olhar. Nossa, que machesa, hein!, o cara era todo bofe! A chance do Sea não se alterar era não beber e manter a consciência, mas se continuasse sóbrio era capaz de não segurar-a-onda. Fechou os olhos e viu uns pontos alaranjados no meio do preto e os pontos foram aumentando e se cor-furtando e se caleidoscopicamente multiplicando até que um rodamoinho todo psicodélico ficou bem em frente, no lugar onde devia haver um Jake e a mixórdia colorida fazia o coração bater mais devagar... Era bom, o Sea sempre fazia isso quando alguma coisa tensa acontecia...
“Sea, olha pra mim!” Ah!, olhava, já tava olhando, e o Jake ainda não tinha mudado de cara, tinha só adicionado uma certa curvatura no canto da boca pra fingir um sorrisinho. E não falava nada ainda, tava com gosto de ver o Sea meio nervoso o filho-da-puta. Lhe-dissesse uma coisa, porque tinha se atrasado? O Sea já tava quase indo embora... “Não me atrasei, te vi chegar inclusive, tava ali do outro lado da rua. Tava vendo você”. O Sea ficou bege! Esteve efervescendo ansiedade durante quarenta minutos pra o outro dizer que tava olhando de longe! Why? Mas o Jac não respondia, continuava olhando com a irritante carinha bonitinha dele. Era melhor beber logo-duma-vez! Virou a tequila duma vez e sentiu queimar o rosto e o estômago e o ardor desceu até as bolas: he had a situation... and didn’t know what to do, fucking-god! Queria sair dali mas se sentia obrigado a ficar. Fazer o que? Ah!, sim! Perguntar o que era que o Jac queria afinal...
“Te ver, né? Não é isso que eu tou fazendo? Tou vendo você...” Vendo? Vendo??? Ta, o Sea se apresentava numa casa noturna em Sampa toda terceira sexta-feira do mês, o Jake podia vê-lo no palco, o Sea até preferia... “Mas assim não tem graça, você ia mexer essa bundinha que-deus-deu pra todo mundo ver além de mim...” E isso devia ser péssimo pra o exclusivista do Jake, né?! Tudo aquilo era por causa da perda de exclusividade da Liv? Ah, ele agora ria de-verdade, com cara de malícia. Voltou a arregalar os olhos esfomeados... lambeu os lábios, depois mordeu o inferior e foi soltando devagarinho. “Fala pra mim, Sea, fala direitinho como foi que você levou a Livi naquela noite”. He didn’t want to talk about that… Já não tinha perguntado pra ela? “É que eu queria ouvir você, meu amor! Pra que tanta animosidade? Eu, que devia te matar, tou te pagando um drink, e em vez de ser bonzinho pra mim você fala desse jeito?“ Mas o Sea não queria falar nada sobre aquilo. Na realidade tinha sido bem besta ao ter aceitado se encontrar com o Jake, nem se lembrava porque tinha aceitado já que não ia ter jeito dele levar a Livi... “Anda! Fala!” – de vozinha macia, todo cínico... Passou a mão pelo cabelo – ele tinha um cabelo maravilhoso! –, depois mordeu a falange do indicador fazendo cara-de-fácil, depois alisou o próprio peito e mantinha o sorrisinho, todo se insinuando. E o pior era ele ser gostosinho mesmo, mas não ia rolar nada, evidente que não. Agora ele sabia o que o Jake queria, queria descaminhar o pensamento do Sea pra descontar o mal-estar do fim-de-semana, o que era natural, porque ninguém gosta de se machucar, inda mais nos brios. Chamou o garçom, pediu mais tequila, mais duas logo de uma vez, que o Jake tinha de acompanhar. “Mas que apetite, hein, bicha!” – afetando pra falar, foi engraçado. Riram espontaneamente pela primeira vez. A bebida chegou bem mais rápido e o Sea sugeriu um brinde, pra quebrar um pouco o gelo. “Tudo bem, a seu fim-de, que deve ter sido paradisíaco...” – mais um olhar de insinuação – “Sea, vamos fazer um joguinho: eu vou te dizer o que a Livi me falou do encontro de vocês e vou te dizer o que eu acho que aconteceu. Daí, você só me confirma, item a item, pode ser? Se você disser tudo direitinho eu posso te conceder alguma coisa que você queira ou precise... Sei lá...” – muito sexyzinho, quase uma Play-mate.
Na vida tem coisas que são feitas pra dar merda e essa era uma. Mas depois de duas tequilas a gente perde o medo, né?! O Sea perdeu não só a noção de perigo como também o respeito próprio e foi logo aceitando porque ficou meio ligado no Jake. Falasse. “Ta...” – virou o pescoço de lado pra estralar, endireitou os ombros e exibiu eximiamente as pérolas simétricas que eram seus dentes. Depois deu um jeito na postura só pra se mostrar, puto pra-caralho! – “Ela disse que foi com você pro aniversário do Marcos, bebeu demais, dormiu e acordou na tua casa de campo. E não deixa de ser verdade, só não é toda a verdade, né? Olha, o jogo já começou, não pode mentir!” E mais tequila! (o Sea já tava com dificuldade pra sentir os lábios, não devia estar bebendo tanto sem comer)... Yeah, he was right. “Então, deixa eu adivinhar... Você deve ter insistido pra ela ir, deve ter dito que tava morrendo de saudade dela...” Very right. “E ela quis recusar mas cedeu porque ela sempre cede quando insistem...” Completely right. “E você não deve ter deixado ela comer, deve ter dado bebida forte pra ela…” Almost right... “Tá, então... Seduz ela quando ela já ta meio alta e dá mais bebida ou maconha, ela tem pressão baixa, desmaia...” Wrong! “Não mente, docinho... Sabe o que mais...” – olhava demais, de sorriso maneirinho, pousava a mão de-leve na do Sea, que nem se mexeu pra não mudar nadinha da sensação que teve. Mas tornou a fechar os olhos – nem sempre gostava da primazia da visão, enxergar às vezes era mau, especialmente quando tudo o que se vê é uma pessoa que não parece ser nada de bom além de bonita... E bem bonita por sinal – o Sea sempre teve ressalvas com gente muito bonita. O problema nesse caso era que se uma luzinha muito funda dizia pra manter os olhos fechados e tentar chegar em casa assim, ser ver ninguém, alguma coisa no corpo gritava orientações bem diversas, gritava pras roupas irem embora com urgência. “...Sabe o que mais? Senta aqui perto de mim...” Tequila (o Sea já zonzo e o Jake rígido feito parede). Mesmo sabendo que não devia obedeceu na hora e foi apertando a perna do cara, meio discreto meio não. “Isso, tá melhor assim. Agora fala pra mim... Nossa, olha onde ce põe a mão, vai com calma, gato!... Isso, muito bom...” – que puto! – “Vamos continuar, me fala como foi que você convenceu a Livi a ir com você, descreve pra eu imaginar, tá parecendo muito excitante...” Que Liv o que!, não tava nem lembrando dela mais, deixasse ela pra lá! Mas em vez de responder o Jake ficava olhando e sustentando o sorrisinho, todo impositivo, devia ser coisa de gente que gosta de negociar. Okay então... Queria saber? Contaria, mas o Jake precisaria deixá-lo em casa depois porque já tava ficando bem louco. “Ah, pedindo assim com jeitinho, qualquer coisa, gato” – era falso demais! Mas era gostoso também, não ia fazer mal se fossem pra casa por uma ou duas horas, ia-não, delícia. Explicava então que tinha sido meio assim: os dois beberam e tomaram meia bala cada um – o Marcos tinha dado bala pra vários convidados, chic, né?! –, daí ficaram se amassando no carro do Marcos, daí transaram animalmente por umas duas horas e ela não parava de querer mais, daí o Sea tava quase morto e sugeriu que fossem embora dali e ela disse que sim, daí ela capotou no carro e só acordou depois. Pronto. Como-assim “o que mais”? Não tinha mais nada, era só isso. Tava rindo de que agora? Parasse... “Não esquenta, mocinho... Já dá pra ver o que aconteceu. Você joga sujo, hein!, mas tudo bem, tá no seu direito... Quer que eu te leve pra casa agora? Vamos de saideira?”
E depois da saideira o Sea só queria e desejava e ardia de vontade de ser levado pra casa e jogado no sofá e arranhado e mordido e beijado, tendo as roupas arrancadas na marra e os cabelos puxados e acordar cheio de marcas e dores pelo corpo no dia seguinte e ficou tão perdido na idealização delirante que ria sozinho e nem se deu conta de o Jake ter pedido e pago conta, de terem ido até o carro, do caminho até a casa do Sea; acordou com a voz dele, calada até o momento, pedindo que descesse, perguntando se estava viajando além da conta. “No-no-no-no-no, come with me. You gotta get in... No! What are you saying? You must stay... Hey... Why are you doing this to me? Let’s get in, get me naked, I want you...” Riu e riu e riu baixinho! Cabou-se o clima: o Sea já não estava mais querendo nada além de distância do Jake, tentou abrir a porta do carro mas estava travada e isso fez o Sea se converter no corpinho de uma enorme aranha recém pisada. “Nossa, como você consegue se encolher desse jeito? O que ce tem? Não fica assim...” Fazia um cafuné delicado, gostoso, mas o Sea não queria saber de nada que não fosse entrar e dormir e esquecer, sentia a raiva mais triste do mundo e a mais solitária também, era a pior das rejeições. Que o Jake abrisse a porra da porta de uma vez. “Sea, me desculpa por isso, eu não queria que nada assim acontecesse, mas procura me entender: em primeiro lugar eu sou casado, casado com a sua amante inclusive. E outra, gatinho!, olha pra você, você tá dando pena, tá nojento! E eu não sou que nem a Livi, que sempre fica excitada quando sente medo e pena. Quer que eu ligue pra ela vir te ver? Vou ligar, péra-i...” Isso era muito sadismo, muito mesmo! And Sea couldn’t take it anymore, se Jake não abrisse a porta agora o Sea daria um escândalo. Ah, abriu! Great! Muito boa-noite! Esperava que tivesse se divertido muito e batesse altas punhetas pensando nesse revanchismo. Mas o desgraçado ainda teve moral pra falar macio e meiguinho: “Ao vencedor, as batatas, amor! Não zanga não! Outro dia eu te ligo pra arrumar as coisas” – e tentou dar selinho, mas o Sea foi mais rápido, se esquivou, fez cara-de-nojo, desceu.
“Pegar por trás? Não, não te peguei por trás não... Pegar por trás foi o que você fez quando seqüestrou a Olívia, hahaha!, Mas se você quiser eu te pego-de-jeito por trás outra hora. Mas já vou avisando que vai doer” – e ria! Essa era a recepção do primeiro encontro dos dois, uma provocaçãozinha de-nada, e foi uma coisa que passeou pela cabeça do Sea por muitos anos, o olharzinho preto e insolente do Jac, todo envolvido em ironia. Podiam se sentar? O Sea queria pagar uma cerveja já que da última vez (ou primeira?) o Jac pagou a margarita. “A gente vai sentar sim, mas você não vai pagar nada...” – chamou o garçom e pediu duas tequilas e uma água, o que fez o Sea se intimidar em pensar no teor da conversa (ele sabia que o Jac muito raramente se excedia com bebida) – “A nossa dinâmica é essa, amiguinho: eu sou o cara do dinheiro então eu pago, não é assim que você e a Livi dizem? Que eu gosto de pagar pelas coisas? Então...” e foi curioso, porque a primeira mensagem que o Sea decodificou disso involuntariamente foi dog-eat-dog; bateu do-nada a sensação que dá quando a gente ta andando pela rua e passa um carro que levanta muita terra e a terra vai entrando nos olhos e na boca e ressecando a pele e dando coceira e secura e pigarro. E o Sea começou a achar que nunca devia ter aceitado aquele encontro estúpido. O Jake tava quieto olhando os passantes, mas agora olhava o Sea, que teve de olhar de volta. O barulho da rua foi diminuindo, diminuindo, até que tudo ficou calmo demais. E o Jake não falava mas olhava e olhava e olhava, nem piscava, movia um pouquinho os globos dentro das órbitas mas sem parar de olhar... E não falava nada. Quando quase completos cinco minutos de silêncio gritante chegou o garçom com a bebida, o que fez com que o Sea se sentisse salvo, mas por pouco tempo, porque o Jake virou tudo num shot e retomou o olhar. Nossa, que machesa, hein!, o cara era todo bofe! A chance do Sea não se alterar era não beber e manter a consciência, mas se continuasse sóbrio era capaz de não segurar-a-onda. Fechou os olhos e viu uns pontos alaranjados no meio do preto e os pontos foram aumentando e se cor-furtando e se caleidoscopicamente multiplicando até que um rodamoinho todo psicodélico ficou bem em frente, no lugar onde devia haver um Jake e a mixórdia colorida fazia o coração bater mais devagar... Era bom, o Sea sempre fazia isso quando alguma coisa tensa acontecia...
“Sea, olha pra mim!” Ah!, olhava, já tava olhando, e o Jake ainda não tinha mudado de cara, tinha só adicionado uma certa curvatura no canto da boca pra fingir um sorrisinho. E não falava nada ainda, tava com gosto de ver o Sea meio nervoso o filho-da-puta. Lhe-dissesse uma coisa, porque tinha se atrasado? O Sea já tava quase indo embora... “Não me atrasei, te vi chegar inclusive, tava ali do outro lado da rua. Tava vendo você”. O Sea ficou bege! Esteve efervescendo ansiedade durante quarenta minutos pra o outro dizer que tava olhando de longe! Why? Mas o Jac não respondia, continuava olhando com a irritante carinha bonitinha dele. Era melhor beber logo-duma-vez! Virou a tequila duma vez e sentiu queimar o rosto e o estômago e o ardor desceu até as bolas: he had a situation... and didn’t know what to do, fucking-god! Queria sair dali mas se sentia obrigado a ficar. Fazer o que? Ah!, sim! Perguntar o que era que o Jac queria afinal...
“Te ver, né? Não é isso que eu tou fazendo? Tou vendo você...” Vendo? Vendo??? Ta, o Sea se apresentava numa casa noturna em Sampa toda terceira sexta-feira do mês, o Jake podia vê-lo no palco, o Sea até preferia... “Mas assim não tem graça, você ia mexer essa bundinha que-deus-deu pra todo mundo ver além de mim...” E isso devia ser péssimo pra o exclusivista do Jake, né?! Tudo aquilo era por causa da perda de exclusividade da Liv? Ah, ele agora ria de-verdade, com cara de malícia. Voltou a arregalar os olhos esfomeados... lambeu os lábios, depois mordeu o inferior e foi soltando devagarinho. “Fala pra mim, Sea, fala direitinho como foi que você levou a Livi naquela noite”. He didn’t want to talk about that… Já não tinha perguntado pra ela? “É que eu queria ouvir você, meu amor! Pra que tanta animosidade? Eu, que devia te matar, tou te pagando um drink, e em vez de ser bonzinho pra mim você fala desse jeito?“ Mas o Sea não queria falar nada sobre aquilo. Na realidade tinha sido bem besta ao ter aceitado se encontrar com o Jake, nem se lembrava porque tinha aceitado já que não ia ter jeito dele levar a Livi... “Anda! Fala!” – de vozinha macia, todo cínico... Passou a mão pelo cabelo – ele tinha um cabelo maravilhoso! –, depois mordeu a falange do indicador fazendo cara-de-fácil, depois alisou o próprio peito e mantinha o sorrisinho, todo se insinuando. E o pior era ele ser gostosinho mesmo, mas não ia rolar nada, evidente que não. Agora ele sabia o que o Jake queria, queria descaminhar o pensamento do Sea pra descontar o mal-estar do fim-de-semana, o que era natural, porque ninguém gosta de se machucar, inda mais nos brios. Chamou o garçom, pediu mais tequila, mais duas logo de uma vez, que o Jake tinha de acompanhar. “Mas que apetite, hein, bicha!” – afetando pra falar, foi engraçado. Riram espontaneamente pela primeira vez. A bebida chegou bem mais rápido e o Sea sugeriu um brinde, pra quebrar um pouco o gelo. “Tudo bem, a seu fim-de, que deve ter sido paradisíaco...” – mais um olhar de insinuação – “Sea, vamos fazer um joguinho: eu vou te dizer o que a Livi me falou do encontro de vocês e vou te dizer o que eu acho que aconteceu. Daí, você só me confirma, item a item, pode ser? Se você disser tudo direitinho eu posso te conceder alguma coisa que você queira ou precise... Sei lá...” – muito sexyzinho, quase uma Play-mate.
Na vida tem coisas que são feitas pra dar merda e essa era uma. Mas depois de duas tequilas a gente perde o medo, né?! O Sea perdeu não só a noção de perigo como também o respeito próprio e foi logo aceitando porque ficou meio ligado no Jake. Falasse. “Ta...” – virou o pescoço de lado pra estralar, endireitou os ombros e exibiu eximiamente as pérolas simétricas que eram seus dentes. Depois deu um jeito na postura só pra se mostrar, puto pra-caralho! – “Ela disse que foi com você pro aniversário do Marcos, bebeu demais, dormiu e acordou na tua casa de campo. E não deixa de ser verdade, só não é toda a verdade, né? Olha, o jogo já começou, não pode mentir!” E mais tequila! (o Sea já tava com dificuldade pra sentir os lábios, não devia estar bebendo tanto sem comer)... Yeah, he was right. “Então, deixa eu adivinhar... Você deve ter insistido pra ela ir, deve ter dito que tava morrendo de saudade dela...” Very right. “E ela quis recusar mas cedeu porque ela sempre cede quando insistem...” Completely right. “E você não deve ter deixado ela comer, deve ter dado bebida forte pra ela…” Almost right... “Tá, então... Seduz ela quando ela já ta meio alta e dá mais bebida ou maconha, ela tem pressão baixa, desmaia...” Wrong! “Não mente, docinho... Sabe o que mais...” – olhava demais, de sorriso maneirinho, pousava a mão de-leve na do Sea, que nem se mexeu pra não mudar nadinha da sensação que teve. Mas tornou a fechar os olhos – nem sempre gostava da primazia da visão, enxergar às vezes era mau, especialmente quando tudo o que se vê é uma pessoa que não parece ser nada de bom além de bonita... E bem bonita por sinal – o Sea sempre teve ressalvas com gente muito bonita. O problema nesse caso era que se uma luzinha muito funda dizia pra manter os olhos fechados e tentar chegar em casa assim, ser ver ninguém, alguma coisa no corpo gritava orientações bem diversas, gritava pras roupas irem embora com urgência. “...Sabe o que mais? Senta aqui perto de mim...” Tequila (o Sea já zonzo e o Jake rígido feito parede). Mesmo sabendo que não devia obedeceu na hora e foi apertando a perna do cara, meio discreto meio não. “Isso, tá melhor assim. Agora fala pra mim... Nossa, olha onde ce põe a mão, vai com calma, gato!... Isso, muito bom...” – que puto! – “Vamos continuar, me fala como foi que você convenceu a Livi a ir com você, descreve pra eu imaginar, tá parecendo muito excitante...” Que Liv o que!, não tava nem lembrando dela mais, deixasse ela pra lá! Mas em vez de responder o Jake ficava olhando e sustentando o sorrisinho, todo impositivo, devia ser coisa de gente que gosta de negociar. Okay então... Queria saber? Contaria, mas o Jake precisaria deixá-lo em casa depois porque já tava ficando bem louco. “Ah, pedindo assim com jeitinho, qualquer coisa, gato” – era falso demais! Mas era gostoso também, não ia fazer mal se fossem pra casa por uma ou duas horas, ia-não, delícia. Explicava então que tinha sido meio assim: os dois beberam e tomaram meia bala cada um – o Marcos tinha dado bala pra vários convidados, chic, né?! –, daí ficaram se amassando no carro do Marcos, daí transaram animalmente por umas duas horas e ela não parava de querer mais, daí o Sea tava quase morto e sugeriu que fossem embora dali e ela disse que sim, daí ela capotou no carro e só acordou depois. Pronto. Como-assim “o que mais”? Não tinha mais nada, era só isso. Tava rindo de que agora? Parasse... “Não esquenta, mocinho... Já dá pra ver o que aconteceu. Você joga sujo, hein!, mas tudo bem, tá no seu direito... Quer que eu te leve pra casa agora? Vamos de saideira?”
E depois da saideira o Sea só queria e desejava e ardia de vontade de ser levado pra casa e jogado no sofá e arranhado e mordido e beijado, tendo as roupas arrancadas na marra e os cabelos puxados e acordar cheio de marcas e dores pelo corpo no dia seguinte e ficou tão perdido na idealização delirante que ria sozinho e nem se deu conta de o Jake ter pedido e pago conta, de terem ido até o carro, do caminho até a casa do Sea; acordou com a voz dele, calada até o momento, pedindo que descesse, perguntando se estava viajando além da conta. “No-no-no-no-no, come with me. You gotta get in... No! What are you saying? You must stay... Hey... Why are you doing this to me? Let’s get in, get me naked, I want you...” Riu e riu e riu baixinho! Cabou-se o clima: o Sea já não estava mais querendo nada além de distância do Jake, tentou abrir a porta do carro mas estava travada e isso fez o Sea se converter no corpinho de uma enorme aranha recém pisada. “Nossa, como você consegue se encolher desse jeito? O que ce tem? Não fica assim...” Fazia um cafuné delicado, gostoso, mas o Sea não queria saber de nada que não fosse entrar e dormir e esquecer, sentia a raiva mais triste do mundo e a mais solitária também, era a pior das rejeições. Que o Jake abrisse a porra da porta de uma vez. “Sea, me desculpa por isso, eu não queria que nada assim acontecesse, mas procura me entender: em primeiro lugar eu sou casado, casado com a sua amante inclusive. E outra, gatinho!, olha pra você, você tá dando pena, tá nojento! E eu não sou que nem a Livi, que sempre fica excitada quando sente medo e pena. Quer que eu ligue pra ela vir te ver? Vou ligar, péra-i...” Isso era muito sadismo, muito mesmo! And Sea couldn’t take it anymore, se Jake não abrisse a porta agora o Sea daria um escândalo. Ah, abriu! Great! Muito boa-noite! Esperava que tivesse se divertido muito e batesse altas punhetas pensando nesse revanchismo. Mas o desgraçado ainda teve moral pra falar macio e meiguinho: “Ao vencedor, as batatas, amor! Não zanga não! Outro dia eu te ligo pra arrumar as coisas” – e tentou dar selinho, mas o Sea foi mais rápido, se esquivou, fez cara-de-nojo, desceu.
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