Sentado bem na beira, olhava o horizonte e pela primeira vez, não via nada vindo dali. E era realmente curioso porque essas visões de futuro sempre foram um ponto muito forte seu. Mas era que nunca saberia dizer por que ela teve de ir embora, por que fugia em vez de voltar pra casa. Sempre foi uma cabeça muito pragmática, não fantasiava, quase nunca sonhava. Só que agora... agora lhe restava apenas um sentimento que sempre deplorou na vida, agora era só esperança, esperança de que ela voltasse. Tinha também uma pena doida de si mesmo, um lamento ruim pelo que estava acontecendo em sua vida... Ah, mas o que houvera em sua vida, como tudo mudou tanto sem que ele pudesse conter? O pôr-do-sol paulistano nunca foi tão melancólico... Suspirou... suspirou diversas vezes seguidas. Aproximou as mãos do rosto, ainda guardavam o cheiro dela, foi quase um consolo pra aquela saudade de amargar... Tornou a olhar a Bela Vista, dali se via toda a Nove de Julho e mais tanta coisa... São Paulo acontecendo lá embaixo e ele ali, parado, lamentando... A Livi devia passar um tempo no vão do Masp quase todos os dias, ele ficou contente por fazer alguma coisa que de alguma forma o aproximava dela um pouquinho. Olha só, até conseguiu sorrir... É, estava muito amargo mesmo, quase não se agüentava.
"Quer fumar um?"
Não, obrigado. Nem procurou saber quem oferecia, não achava adequado fumar em plena Paulista, apesar de muita gente fazer isso. Tanta chance de rodar com a polícia...
"Hey, take it. You'll feel better..."
Ah, então era ele... "Sim, sou eu... E é você. Sounds like me and you". Sea oferecia a mão a cumprimento, mas o Jac o puxou pelo braço e beijou no rosto: tinha saído do armário afinal. "Hey, congratulations! Vai fazer uma festa?" - foi logo se sentando e acendendo o cigarrinho, bem a despeito do sorriso propositadamente amarelo do Jac. Mas como tinha gente sem bom-senso nesse mundo, meldelz! A gente sempre se surpreendia... Ia fumar ali mesmo, na Paulista? “Bem, eu acho que posso arcar com todas as conseqüências de gostar do que eu gosto e fazer o que eu quero...” Esse parecia um argumento que merecia uma boa resposta, especialmente por ter vindo do Sea, mas Jac teve muita preguiça de pensar. Esteve em silêncio um momento e acabou aceitando fumar, talvez não tivesse nada a perder mesmo. O Sea sorriu; nesse momento o Jac não sabia se gostava dele ou não e nunca soube antes também, mas agora gostava de olhar pra ele, estava lhe parecendo mais bonito que das outras vezes... Menos estranho pelo menos, não usava maquiagem nem roupas extravagantes, só um jeans e uma blusa larga muito velha, que havia sido da Livi – nela ficava péssima, muito grande, mas caía bem a ele – e não usava as horríveis lentes de contato que tiravam a cor dos seus olhos: Jac acabava de descobrir que Sea tinha olhos verdes muito escuros e achou bem bonito... Era todo meio bonito na verdade, só precisava ganhar um pouco de peso e se bronzear para perder a cara-de-doente...
“Então, tou aqui curtindo o veneninho da ferroada dela, cê também, né? Conta pra mim.” A pergunta foi tão fora do que Jac esperava que se engasgou com a fumaça: não era possível que justamente aquele cara estivesse puxando assunto de amigo. Mas que coisa! Se bem que pareceu interessante conversar com ele um pouco, talvez pudesse dar umas cutucadas doloridas, pra exercitar o sadismo. Prendeu bem os olhos à cara do Sea e respondeu que sim. “Saudade é pior no começo, queima mais... Depois vai ficando mais suave... Ela foi embora hoje, não?” Sim, havia pouco. “Ela não quis que eu fosse junto até o aeroporto...” Mas era claro que não! Ela estava fugindo por causa dele justamente... “Por minha causa? Escuta, Jac, você tem certeza que é por isso?” De mágoa pura pelo morte do pai era que não havia de ser, não?! Por que mais? “Olha, Jac, eu tenho a sensação de que quem acabou com a vida dela foi você, muito antes de mim...” Achasse o que quisesse, não era seu o problema. Preferiu estar em silêncio por uns instantes pra evitar animosidade, porque estava dando uma vontade de encher a cara do freakzinho de porrada... Teria de se conter... Mas o cara teve um acesso de tosse tão violento, ficou parecendo tão fraco, deu até pena... Hahahá, tudo bem, estava vingado no momento. Riu mais um pouquinho. “Você é meio sádico, não é, Jake?” Ah, não, não ia falar disso justamente com o doente do Sea... Mas era sim, no fundo era e sabia que o outro sabia. O que mais irritava no cara era que ele tinha uma perspicácia doentia – achava mesmo era que tudo ali era doentio, mas também não falaria disso. E o Sea estava dando risadinhas, maldito! Tinha a impressão de que o Sea scaneava todos os seus pensamentos, feito água entrando pelo ouvido, e se sentiu um pouco vulnerável, um pouco mais do que já estava; não gostava de ficar vulnerável, mas sabia reconhecer quando não tinha mais jeito.
O Sea se acomodou um pouco mais perto, numa familiaridade bem surpreendente. “Posso te fazer uma pergunta... bastante indiscreta mesmo?” O tom de confidência naqueles olhos enormes chegava a dar medo... E adiantava dizer que não podia? Já tinha feito algumas... Falasse então. “Você por um acaso tomou banho antes de sair de casa, Jake?” Nossa! Qualquer pergunta nesse mundo era esperada, menos essa! Não, não, não havia mesmo a menor, nem a menor chance que fosse de o Jac imaginar que teria de responder àquilo, apenas arregalou os olhos e fez um sinal negativo com a cabeça, bem discreto. Sea sorriu simpático, sabia que não. Mas sabia por que? “Você tá com o cheiro dela... do corpo dela... nas mãos e no rosto – tocou os dedos de Jac bem levemente – mas mais nas mãos... Você deve ter catado a noite toda, imagino... Ela gostou?” Jac sentiu um ânimo estranho: queria saber da verdade, então tava bem, ia saber. Sim, tinha transado com ela sim, a noite toda, todinha, na sala, no quarto, no banheiro, na cama, no chão, na mesa, de pé, deitado... E foi sexo oral, anal, mão... Teve de tudo... Se ela gostou? Claro que sim! Ela tinha uma tara louca em ser comprada. “Em ser comprada? – era uma cara de espanto e Jac adorou poder surpreendê-lo também – Você... Não! Você não pagou pra ela te dar, né? Pagou? Sim... Sim, você pagou pra ela te dar... Oh-my-god!” Era evidente que sim, como achava que ela havia conseguido comprar as passagens de avião e um lugar pra ficar em Buenos Aires? Ele deu a grana pra ela... – Sea abaixou a cabeça – mas ela não quis aceitar de graça. Ela tinha pedido as contas no escritório, queria pegar a grana do FGTS e sair por aí. Mas o dinheiro não ia dar pra muita coisa, ia acabar rápido, e o Jac achou melhor dar uma boa grana pra ela. Em vez da demissão deu uma licença por tempo indeterminado, se ela voltasse para o Brasil, teria emprego pelo menos. “Deu um jeito de não perder pra sempre... É simples e perfeito, eu não teria feito melhor... Mas é claro que não... É a sua ex-esposa, você deve saber lidar com ela... – tinha uma melancolia grande na cara agora – Cacete, tou admirado com você, tou mesmo. Eu queria ter passado uma última noite com ela também...” É, sabia... Sabia sim, mas não quis falar, olhava longamente o rosto fino do Sea e achou que tanta tristeza deixava-o realmente mais bonito. Teve uma compaixão muito grande, sabia que deviam estar sentindo quase a mesma coisa naquele instante e não era nada agradável. Abraçou os próprios joelhos, deitou o rosto sobre eles, tornou a olhar a Bela Vista. Era realmente um lindo entardecer, lindo que doía. Alguma brisa trazia um cheiro de manacá e ele se lembrou de que ela gostava muito de manacás e que o pé que ela havia plantado no jardim do prédio estava grandinho agora... Sentiu um cafuné nos cabelos, era o Sea, parado bem ao lado, pertinho. Olhou os olhos dele, estavam dóceis e tristes, dava vontade de olhar mais. Ele agora tocava o rosto do Jac com os dedos, numa delicadeza própria de criança; avançou devagar e lhe deu um beijo leve e molhado na boca... Depois deu outro... E o Jac o afastou educadamente antes do terceiro. Mas o que era que acontecia com o Sea? “São só uns beijos, Jac... Você não saiu do armário?” Sim, tinha saído mesmo, mas não era por isso que sairia beijando o primeiro que aparecesse – disse isso por não saber o que dizer, estava um pouco assustado com o inusitado da situação. “Pára de besteira... Eu sempre tive vontade de beijar você e acho que você também, né? Ninguém paga drink pra alguém que não conhece se não tiver segundas intenções... E você já me fez isso mais de uma vez...” Sim, realmente...
Mas ao mesmo tempo que ia concordando, uma idéia muito surreal lhe passou pela cabeça e a teria repelido se não achasse que o Sea era a coisa mais doentia que já tinha visto na vida, ia até se levantando pra falar: escutasse, estava dando aqueles beijos porque ele tinha o cheiro da Olívia na boca, era isso? Sea se levantou também e segurou os passadores de cinto da calça do Jac. Riu. “É, é por isso também... Claro! Dá pra pegar vocês dois com um esforço só, olha que prático?! – riu de novo – Mas não se sinta depreciado por isso, querido, por favor... Prometo que não te peço pra vestir a camisola dela se a gente dormir junto algum dia...” Riu novamente e olhou alegrinho pra cara do Jac, que se sentia um pouco mais relaxado e dava um tapinha com o indicador no queixo do outro. Riam-se um pra o outro. O Sea era um pouco mais baixo que o Jac mas sempre lhe deu a impressão de ser mais alto... Devia ser porque era muito magro ou talvez porque não era mesmo nada do que parecia ser. Jac recebia uma carícia no rosto sem saber quais eram as intenções verdadeiras por trás de tudo aquilo. O que estaria querendo? “Olha, Jake, no momento só ficar aqui com você mesmo, e se puder ser bem pertinho melhor” Sim, certo, mas o que mais queria? “Schssssssssssssssssssssss – apontava o céu, que tinha um cor-de-rosa fantástico – Pára com isso, fica comigo hoje”. Não sabia, não sabia se uma coisa daquela valeria a pena e, muito embora a proposta parecesse sedutora, não achava que tudo seria muito simples na manhã seguinte. Ah, e a propósito, podia chamá-lo de João Carlos mesmo. Sea riu de novo, baixou a cabeça, tornou a olhá-lo. “Não vai atender se eu te chamar de Jake?... Tá com tanto medo assim de ter alguma intimidade comigo?” Ah, tinha medo sim. Tinha visto o que ele teve moral pra fazer com a Olívia. “Ninguém aqui falou em casamento... Jake... DJEEEI-KE... Jake... E a propósito, você não tirou minha mão da sua cintura até agora...” Realmente, realmente... Pensou que precisava encontrar motivos pra afastar aquele homem de si e, se não fazia, era que de fato não queria. Mas o Sea ainda continuou: “Olha, eu acho na verdade que você não tem nada a perder...” Nem a ganhar tampouco, né? “A ganhar? Talvez sim... Você não vai dormir sozinho pelo menos, o que é um perigo pra gente carente...” Teve dúvida quanto ao que fazer por um instante, mas o Sea fez uma carinha travessa que desmanchou a hesitação. Beijaram-se. Abraçaram-se longamente... intensamente... Voltaram a se beijar e o Jac aprendeu que o Sea beijava com os olhos muito fechados.
"Quer fumar um?"
Não, obrigado. Nem procurou saber quem oferecia, não achava adequado fumar em plena Paulista, apesar de muita gente fazer isso. Tanta chance de rodar com a polícia...
"Hey, take it. You'll feel better..."
Ah, então era ele... "Sim, sou eu... E é você. Sounds like me and you". Sea oferecia a mão a cumprimento, mas o Jac o puxou pelo braço e beijou no rosto: tinha saído do armário afinal. "Hey, congratulations! Vai fazer uma festa?" - foi logo se sentando e acendendo o cigarrinho, bem a despeito do sorriso propositadamente amarelo do Jac. Mas como tinha gente sem bom-senso nesse mundo, meldelz! A gente sempre se surpreendia... Ia fumar ali mesmo, na Paulista? “Bem, eu acho que posso arcar com todas as conseqüências de gostar do que eu gosto e fazer o que eu quero...” Esse parecia um argumento que merecia uma boa resposta, especialmente por ter vindo do Sea, mas Jac teve muita preguiça de pensar. Esteve em silêncio um momento e acabou aceitando fumar, talvez não tivesse nada a perder mesmo. O Sea sorriu; nesse momento o Jac não sabia se gostava dele ou não e nunca soube antes também, mas agora gostava de olhar pra ele, estava lhe parecendo mais bonito que das outras vezes... Menos estranho pelo menos, não usava maquiagem nem roupas extravagantes, só um jeans e uma blusa larga muito velha, que havia sido da Livi – nela ficava péssima, muito grande, mas caía bem a ele – e não usava as horríveis lentes de contato que tiravam a cor dos seus olhos: Jac acabava de descobrir que Sea tinha olhos verdes muito escuros e achou bem bonito... Era todo meio bonito na verdade, só precisava ganhar um pouco de peso e se bronzear para perder a cara-de-doente...
“Então, tou aqui curtindo o veneninho da ferroada dela, cê também, né? Conta pra mim.” A pergunta foi tão fora do que Jac esperava que se engasgou com a fumaça: não era possível que justamente aquele cara estivesse puxando assunto de amigo. Mas que coisa! Se bem que pareceu interessante conversar com ele um pouco, talvez pudesse dar umas cutucadas doloridas, pra exercitar o sadismo. Prendeu bem os olhos à cara do Sea e respondeu que sim. “Saudade é pior no começo, queima mais... Depois vai ficando mais suave... Ela foi embora hoje, não?” Sim, havia pouco. “Ela não quis que eu fosse junto até o aeroporto...” Mas era claro que não! Ela estava fugindo por causa dele justamente... “Por minha causa? Escuta, Jac, você tem certeza que é por isso?” De mágoa pura pelo morte do pai era que não havia de ser, não?! Por que mais? “Olha, Jac, eu tenho a sensação de que quem acabou com a vida dela foi você, muito antes de mim...” Achasse o que quisesse, não era seu o problema. Preferiu estar em silêncio por uns instantes pra evitar animosidade, porque estava dando uma vontade de encher a cara do freakzinho de porrada... Teria de se conter... Mas o cara teve um acesso de tosse tão violento, ficou parecendo tão fraco, deu até pena... Hahahá, tudo bem, estava vingado no momento. Riu mais um pouquinho. “Você é meio sádico, não é, Jake?” Ah, não, não ia falar disso justamente com o doente do Sea... Mas era sim, no fundo era e sabia que o outro sabia. O que mais irritava no cara era que ele tinha uma perspicácia doentia – achava mesmo era que tudo ali era doentio, mas também não falaria disso. E o Sea estava dando risadinhas, maldito! Tinha a impressão de que o Sea scaneava todos os seus pensamentos, feito água entrando pelo ouvido, e se sentiu um pouco vulnerável, um pouco mais do que já estava; não gostava de ficar vulnerável, mas sabia reconhecer quando não tinha mais jeito.
O Sea se acomodou um pouco mais perto, numa familiaridade bem surpreendente. “Posso te fazer uma pergunta... bastante indiscreta mesmo?” O tom de confidência naqueles olhos enormes chegava a dar medo... E adiantava dizer que não podia? Já tinha feito algumas... Falasse então. “Você por um acaso tomou banho antes de sair de casa, Jake?” Nossa! Qualquer pergunta nesse mundo era esperada, menos essa! Não, não, não havia mesmo a menor, nem a menor chance que fosse de o Jac imaginar que teria de responder àquilo, apenas arregalou os olhos e fez um sinal negativo com a cabeça, bem discreto. Sea sorriu simpático, sabia que não. Mas sabia por que? “Você tá com o cheiro dela... do corpo dela... nas mãos e no rosto – tocou os dedos de Jac bem levemente – mas mais nas mãos... Você deve ter catado a noite toda, imagino... Ela gostou?” Jac sentiu um ânimo estranho: queria saber da verdade, então tava bem, ia saber. Sim, tinha transado com ela sim, a noite toda, todinha, na sala, no quarto, no banheiro, na cama, no chão, na mesa, de pé, deitado... E foi sexo oral, anal, mão... Teve de tudo... Se ela gostou? Claro que sim! Ela tinha uma tara louca em ser comprada. “Em ser comprada? – era uma cara de espanto e Jac adorou poder surpreendê-lo também – Você... Não! Você não pagou pra ela te dar, né? Pagou? Sim... Sim, você pagou pra ela te dar... Oh-my-god!” Era evidente que sim, como achava que ela havia conseguido comprar as passagens de avião e um lugar pra ficar em Buenos Aires? Ele deu a grana pra ela... – Sea abaixou a cabeça – mas ela não quis aceitar de graça. Ela tinha pedido as contas no escritório, queria pegar a grana do FGTS e sair por aí. Mas o dinheiro não ia dar pra muita coisa, ia acabar rápido, e o Jac achou melhor dar uma boa grana pra ela. Em vez da demissão deu uma licença por tempo indeterminado, se ela voltasse para o Brasil, teria emprego pelo menos. “Deu um jeito de não perder pra sempre... É simples e perfeito, eu não teria feito melhor... Mas é claro que não... É a sua ex-esposa, você deve saber lidar com ela... – tinha uma melancolia grande na cara agora – Cacete, tou admirado com você, tou mesmo. Eu queria ter passado uma última noite com ela também...” É, sabia... Sabia sim, mas não quis falar, olhava longamente o rosto fino do Sea e achou que tanta tristeza deixava-o realmente mais bonito. Teve uma compaixão muito grande, sabia que deviam estar sentindo quase a mesma coisa naquele instante e não era nada agradável. Abraçou os próprios joelhos, deitou o rosto sobre eles, tornou a olhar a Bela Vista. Era realmente um lindo entardecer, lindo que doía. Alguma brisa trazia um cheiro de manacá e ele se lembrou de que ela gostava muito de manacás e que o pé que ela havia plantado no jardim do prédio estava grandinho agora... Sentiu um cafuné nos cabelos, era o Sea, parado bem ao lado, pertinho. Olhou os olhos dele, estavam dóceis e tristes, dava vontade de olhar mais. Ele agora tocava o rosto do Jac com os dedos, numa delicadeza própria de criança; avançou devagar e lhe deu um beijo leve e molhado na boca... Depois deu outro... E o Jac o afastou educadamente antes do terceiro. Mas o que era que acontecia com o Sea? “São só uns beijos, Jac... Você não saiu do armário?” Sim, tinha saído mesmo, mas não era por isso que sairia beijando o primeiro que aparecesse – disse isso por não saber o que dizer, estava um pouco assustado com o inusitado da situação. “Pára de besteira... Eu sempre tive vontade de beijar você e acho que você também, né? Ninguém paga drink pra alguém que não conhece se não tiver segundas intenções... E você já me fez isso mais de uma vez...” Sim, realmente...
Mas ao mesmo tempo que ia concordando, uma idéia muito surreal lhe passou pela cabeça e a teria repelido se não achasse que o Sea era a coisa mais doentia que já tinha visto na vida, ia até se levantando pra falar: escutasse, estava dando aqueles beijos porque ele tinha o cheiro da Olívia na boca, era isso? Sea se levantou também e segurou os passadores de cinto da calça do Jac. Riu. “É, é por isso também... Claro! Dá pra pegar vocês dois com um esforço só, olha que prático?! – riu de novo – Mas não se sinta depreciado por isso, querido, por favor... Prometo que não te peço pra vestir a camisola dela se a gente dormir junto algum dia...” Riu novamente e olhou alegrinho pra cara do Jac, que se sentia um pouco mais relaxado e dava um tapinha com o indicador no queixo do outro. Riam-se um pra o outro. O Sea era um pouco mais baixo que o Jac mas sempre lhe deu a impressão de ser mais alto... Devia ser porque era muito magro ou talvez porque não era mesmo nada do que parecia ser. Jac recebia uma carícia no rosto sem saber quais eram as intenções verdadeiras por trás de tudo aquilo. O que estaria querendo? “Olha, Jake, no momento só ficar aqui com você mesmo, e se puder ser bem pertinho melhor” Sim, certo, mas o que mais queria? “Schssssssssssssssssssssss – apontava o céu, que tinha um cor-de-rosa fantástico – Pára com isso, fica comigo hoje”. Não sabia, não sabia se uma coisa daquela valeria a pena e, muito embora a proposta parecesse sedutora, não achava que tudo seria muito simples na manhã seguinte. Ah, e a propósito, podia chamá-lo de João Carlos mesmo. Sea riu de novo, baixou a cabeça, tornou a olhá-lo. “Não vai atender se eu te chamar de Jake?... Tá com tanto medo assim de ter alguma intimidade comigo?” Ah, tinha medo sim. Tinha visto o que ele teve moral pra fazer com a Olívia. “Ninguém aqui falou em casamento... Jake... DJEEEI-KE... Jake... E a propósito, você não tirou minha mão da sua cintura até agora...” Realmente, realmente... Pensou que precisava encontrar motivos pra afastar aquele homem de si e, se não fazia, era que de fato não queria. Mas o Sea ainda continuou: “Olha, eu acho na verdade que você não tem nada a perder...” Nem a ganhar tampouco, né? “A ganhar? Talvez sim... Você não vai dormir sozinho pelo menos, o que é um perigo pra gente carente...” Teve dúvida quanto ao que fazer por um instante, mas o Sea fez uma carinha travessa que desmanchou a hesitação. Beijaram-se. Abraçaram-se longamente... intensamente... Voltaram a se beijar e o Jac aprendeu que o Sea beijava com os olhos muito fechados.
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