12 de dezembro de 2007

Ato 34

Tava o Jac numa praia linda, toda rodeada de grandes pedras onde as aves marinhas pousavam. O céu guardava uma nebulosidade alta, atrás da qual se podia ver o sol. O gris celeste saía os grandes olhos da Livi, que tava bem ali pertinho, muito bela e muito puta, dançando nuínha. Estavam sozinhos e o Jac estendeu a mão a ela, pedindo carinho, mas ela não pegou faceirinha, correu um pouquinho na direção do mar e se virou pra ele de novo, queria brincar de pegar, a danadinha. Era claro que o Jac seguia... E ela corria meio devagar, parou bem na beirinha do mar, onde o vento se encontra com a água e faz espuminha branca. Algum deus devia ter inseminado a superfície clara da água... Era ali que ela estava, parada, rindo, muito-muito nua e delicada, os cabelos revoltos voando: a própria Vênus nascendo, se Botticelli a tivesse feito mulatinha. O Jac sentiu um desejo alegre e muito forte, carecia de posse dela e queria no ato. Andou até ela, que foi mais pra o fundo do mar, mas não afundava: ela corria sobre as águas, flutuava, toda ninfa. O Jac tentava seguir mas não conseguia flutuar no mar como ela, então pediu que voltasse. Mas nada, ela ria e o chamava para o fundo. O Jac foi nadar na direção dela, mas veio uma onda e o levou de volta pras pedras. E a Livi deixava, só acenava... O Jac se jogou na água outra vez e outra onda o fez voltar. Mais várias tentativas, todas frustradas. E ela dançava... E o deixava ali, nas pedras... E dançava... E sorria... E chamava: “Vem, amor, a água tá uma delícia...”, e acenava e dançava... Feliz como ninguém... E o Jac soube que certamente ficaria preso na praia pra sempre...

O Jac acordou suado e trêmulo e morrendo de calor e susto e a primeira medida que tomou foi verificar se Livi ainda estava ao seu lado na cama...




A Livi estava com o Jac numa praia toda circundada de pedras e era um dia de sol radiante feito lua-de-mel. Estava feliz, muito calma e feliz. O mar era cristalino e tinha a superfície tão serena que era até falta de sensibilidade não se deixar tocar pela água. Mas antes de ir, sem saber bem por que, a Olívia se virou pro Jac e pediu, pediu que ele a deixasse entrar, e ele concedeu e riu. Depois, ela pediu pra que ele não saísse de perto e ele garantiu que estaria bem ali. Então ela entrou na água, mergulhou, foi pra o fundo... E a água não era nem tão salgada assim, era agradável, morna, verdinha... Deslizava suave envolvendo todo o corpo da Livi, acarinhava... A sensação não podia ser melhor, parecia envolvida por um amor que se estendia pelo mundo todo e não queria mais sair...

Ela não sabia já há quanto tempo estava emersa quando começou a se sentir cansada, bastante cansada. Mas olhando ao redor não conseguia ver a praia e não sabia em que direção devia nadar. Ficou muito chateada por uns momentos, mas o cansaço de nadar naquela imensidão era tamanha!... E o calor das águas faziam o corpo relaxar... E a Livi adormecia, mas logo os pulmões se esvaziavam de ar, seu corpo afundava e ela se afogava, água nos olhos e ouvidos e nariz e garganta, precisava acordar e nadar pra se manter viva... Mas estava muito cansada e a água a ia acalmando, era difícil de resistir... Olhando ao redor, nada... nada... nadinha... Só uma rocha, muito longe... Acenando... Ah, era o Jac, tava na rocha ou era a rocha mesma, não dava pra distinguir uma coisa da outra... Mas a Livi não conseguia nadar até lá... Ia morrer no caminho... Mas a rocha era só o que restava... E ia morrer no caminho... Chorou, sentiu as lágrimas salgando a boca, mas não sabia se eram mesmo lágrimas ou se era o mar.

A Livi acordou chorando e tensa e se deparou com o Jac, também acordado com cara-de-susto, que a abraçou forte, beijou e falou baixinho: “Livi, meu amor, você só fica se quiser... Agora que meu pai tá morto, você fica comigo se quiser... Eu vou continuar tratando o seu pai, mesmo se você me largar... Não fica se não quiser...”, mas ela se incomodou em ouvir aquilo, ficou mais triste, não queria escutar nada, cobriu a boca do marido com a mão e fez “schssssssssssssss”. Se abraçaram e estiveram quietos por uns instantes.

“Sabe, Livi, eu... eu tive um pesadelo... e tinha uma praia...”

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