A Lívia tinha uma opinião muito bacana sobre possessividade: que é uma coisa meio inútil porque quando a gente quer dar uma puladinha-de-cerca, faz graças e/ou apesar do ciúme da pessoa. Ela achava que fidelidade não é coisa que se imponha, mas que se conquiste, porque de fato a gente só é fiel quando quer, independente das promessas olho-no-olho que faz na cama ou no altar.
É um raciocínio que agrada o Sea , agrada demais, foi sobre isso que falaram numa das primeiras conversas assozinhada que tiveram. E ele, que já a tinha achado uma menina bem gostosinha (porque era chegadinho em gente escura de beleza diferente), depois disso encanou em desenvolver com ela uma amizade-erótica. O começo de tudo isso foi bom demais, ela não entendia o que ele queria, vivia numa tensão doce entre se entregar e se cuidar cheia de medo e desejo, era só chegar-perto que ela se arrepiava, era só respirar perto que ela se envergonhava. Tesão recolhido em começo de namoro é a melhor coisa que existe e se somar com insegurança, vira uma paixão daquelas! E o Sea prolongou esse sentimento pela a Liv até onde pôde, até se cansar da superficialidade daquilo tudo, porque chegou uma hora que se não entrasse nela, se consumiria no próprio fogo. E pra ele entrar em alguém significa sexo + sono-agarradinho, sendo o sexo a parte dispensável.
O Sea quando se decepcionava com alguém, procurava lembrar do que tinha vivido de bom com a pessoa pra que o relacionamento não se guiasse pela tal decepção. Era o que estava fazendo agora, sentado na janela, olhando a chuva cair do céu marrom-azul-alaranjado da noite de Sampa, com a Rock e o Jazz no colo (a folgada da Blues nunca ficava junto do Sea quando ele queria!). Tava lembrando do começo com a Liv... and missing that times... Esperando por ela, sabia lá que horas ia chegar. Era claro que calava, como podia fazer o contrário?, mas odiava quando ela saía sozinha assim, de quinta-feira-à-noite. Porque era o dia do happie-hour da firma, the fuckin’-drinkin’-day, the fuckin’-Jake-day! Na semana anterior ela voltou passando das duas da manhã... de carro... com ele (o Sea aprendeu a reconhecer o motor do carro do Jake no silêncio do Bixiga). Ela tentou entrar pé-ante-pé pra não acordar o Sea, que nem havia dormido, estava na Internet na hora, de luz acesa e-tudo, mas ela nem deu oi nem-nada, se trancou no banheiro e só saiu de lá de banho tomado, veio abraçar toda bêbada e lânguida e cálida e se largou na cama e se disse cansadinha e nanou feito um anjinho. Não comentou sobre como foi o happie-hour, coisa que ela sempre-sempre fazia, provavelmente porque o que aconteceu lá não podia ser contado e como ela sabia que podia ficar com outras pessoas, se tinha vergonha era porque ficou com quem não devia. Sea becames some kind of superman de tanto esforço que fez pra não pensar nesse assunto, mas não dava. Não dava! Não dava pra entender porque ela entrou na pira-errada de sair com o Jake toda semana se antes ela não ligava pra esses encontros corpo-ativos de firma...
O Jazz estava dormindo e levantou a cabecinha de repente, de olhos muito arregalados, virando a orelha-parabólica que antecipa chegadas. A Rock já ficou tensa na hora, cravou as garras na coxa do Sea pra um impulso quase agressivo, retesou o corpinho e deu um salto olímpico pro chão. Mas que garrinhas doídas, fuckin’-god! Eles perceberam direitinho: Liv and Jake are coming... stoping the car... e a Liv não desce... Fica lá... Tá lá ainda, naquele carrão absurdo... E continua lá... Não dá pra ver o que acontece por causa do reflexo das luzes na chuva e do insulfilm de mau-gosto que a bicha-brega usa nos vidros, mas eles também não podiam ver o Sea porque a janela era lateral... Ah, mas que gentil!, ele abre a porta do carro pra ela, o educadinho-machão, imbecil, manipulador, mother-fucker! E abraça e beija no pescoço, toda dele a Liv, né? Todinha-todinha porque deixa! She must like it! Why? Ah...
É, essa era uma boa pergunta pra fazer e melhor ainda pra calar. O Sea se levantava e ficava na sala, bem no corredor de entrada, pra receber a Liv junto com a Blues que só gostava dela. Quando a porta se abriu e a Liv o viu, deu até um gritinho: “Que susto, quase me mata! Tá parecendo um fantasma brilhando nessa luz negra!” – beijinho de-leve no rosto – “Tudo bem, paixão? Tou cansada, vou tomar banho...”. Não, parasse um minuto, desse um beijo na boca direito, sentasse no colo dele um pouco, tomasse uma taça de vinho... “É que eu já bebi tanto, amor...” – carinha de desânimo dando beijo alcoólico na boca que o Sea teve de intensificar pra que não fosse só um selo. Ela se soltava levezinha e ele a volteava em meneios pra abraçar e ela tornava a se soltar num passo de dança, tão linda... O louro pontual dos cabelos reluzia no escuro enquanto ela girava e ria, feito quando um rodamoinho pequeno faz dançar pluminhas de aves pelo ar, tão linda, tão linda que carecia dela muito, demais, tava até se sentindo mal de tão intensa essa carência. Pousava as mãos nela que se livrava redemoinhada em torno dele, twistin’ and spinin’ and turnin’ and confusin’ him inside, feito uma Iansã... Parasse um pouquinho, sentasse no colo, vá! “Pronto...” – atendeu. Contasse sobre o dia, foi bem? Ah!, sim? E a botecada de hoje? Divertida? Sim? E como tinha sido? “Ah!, botecada, gente falando bobeira, essas coisas...” – e beijava, beijava gostoso. Tá, mas e o Jake? Tava lá também? Ah, sim... A propósito, ela tinha dito uma vez que o Jake só fumava quando bebia, ele ainda fazia isso, né?! “Ai-ai... É, ele sempre fuma quando bebe, coisa de ex-fumante que não se conforma, né?” – riu dengosa, toda lisa e delicada, dava pra entender porque o Jake ficava louco por ela mesmo sendo bicha, sempre tão suavezinha e distraída, nem via o que veneno ruim que tragava o Sea pra dentro que-nem areia movediça tinha vindo com ela, com o cheiro de cigarro no cabelo, no pescoço dela: “Oh! Liv, you’re smelling like a cigarette pack… Please take a shower now…”. Se afastou um pouco do peito dele, olhou com séria cara de quem montou quebra-cabeça mas ainda faltam três pecinhas: “Paixão, me diz uma coisa, é o meu cheiro que tá te incomodando? Ce tá parecendo tão tenso”. Ah!, o cheiro dava enjôo, o Sea nunca gostou de nicotina. “É a nicotina o problema então? Nenhuma ligação com a pergunta que você fez sobre o João?”. O Sea não quis mais disfarçar, não tinha por que, sabia que se arrependeria mas abriu o peito ao furacão: eles andavam transando? A Liv pulou do colo na hora, virou de costas, passou a mão pelos cabelos. “Olha, Sea, francamente... Eu não entendo a razão de ser dessa pergunta, francamente...” Nem precisava perguntar mais nada, já sabia a resposta, sabia que a Liv nem mentiria e nem afirmaria, era o jeito dela de se preservar, de preservar o Sea, de preservar o Jake. All right!
Mas não, não tava tudo bem e nem estaria, alguma coisa doida dentro mexia. Não queria falar nada, não queria, mas a boca tinha vontade própria e, se não isso, pelo menos não respondia bem ao comando da mente. Precisava saber porque ela ainda ficava com o Jake ou porque terminou o casamento se queria ficar com ele. Didn’t make sense, se terminou por causa do Sea, não precisava porque não deixaria de vê-la, continuaria com ela contanto que pudessem ter uma noite toda por semana. Mas não, ela escolheu o Sea, que por isso até saiu de circulação e teve de dispensar o Marcos, caso de mais de dez anos... pra ela continuar servindo de cadelinha pro playboy-filho-da-puta que colonizava ela, alterizava ela, passava todas as primeiras horas do dia com ela e ainda comia de-vez-em-quando. Mas não podia falar nada, não podia, a vida era dela... O Sea se sentia como se tivesse saído numa bela noite de lua e calor pra dormir no relento e uma tempestade de vento e raios o acordasse de assalto, nem acordasse de fato mas quebrasse a tranqüilidade do sonho: sonâmbulo num vendaval. Ele esteve tão certo da paixão da Liv, tão certo!, por tanto tempo!, parecia que nada podia mudar a direção do que ela sentia, que largaria qualquer coisa por prazer de estar com o Sea... E de-repente ela o larga em casa por prazer de qualquer-coisa... Não, não tava tudo bem e queria falar, mas não podia! Precisava se controlar e no fundo não queria – no fundo e no raso também...
“Sea, que carinha é essa, paixão?, fala comigo. Ce tá chorando? Tá sim, uma lagriminha...” – Oh! Sorry, he did’t know... (e realmente não havia notado choro). But... no, nevermind... Fosse só tomar um banho pra dormirem. “Não, paixão, fala o que ce tem... Ce não tá com ciúmes de mim, né?” No, no-way! “E o que tem contigo?”. Era melhor esquecer, já tinha dito!, se falasse, era pior... O que? No, nothing left to say... Não mesmo, não tinha nada pra resolver... Ah, queria mesmo saber... Ah!... Tava bem então, porque tinha saído da casa do Jake? “Ah, Sea, se tem ciúmes dele sim!” Fizesse o favor de não fugir da pergunta já obrigou o Sea a perguntar. “Nossa, que bravo! Desculpa! Ah, porque eu larguei do Jac... Porque eu quis dar um tempo com você, você queria também...” E ela passou a gostar do Jake depois? “Sea, eu sei que você nunca acreditou, mas eu amava o Jac e amo ainda...” – sonâmbulo num vendaval tendo sonhos ruins – “...Ele é uma pessoa muito boa... É que em grande parte das vezes a gente tem que ser injusto pra ser bom, mas ele é bom sim”. E era por isso que ela amava o cara? Mesmo ele tendo comprado ela, mesmo tendo forçada-a-barra na cama tantas vezes, mesmo tendo humilhado, atormentado, sido sádico. Por que ficou amando? Por que? “Porque ele me amou de graça!” - sonâmbulo num vendaval tendo pesadelos tétricos, que se convertiam em mar e rolavam pela cara muito discretamente.
“Paixão, chega disso, não fica assim, vem...” Beijou o rosto, o pescoço. Acariciou as costas por baixo da blusa e acomodou melhor a bundinha nas coxas dele. Beijou na boca, beijinho muito-muito gostoso. “Vem, paixão... Deixa de bobagem, vamo namorar que eu tou com saudade”. O Sea tinha uma “regra-moral”: nunca rejeitar mulher que quer dar mesmo que não estando muito a fim de comer, porque nada é mais humilhante pra uma garota do que ser rejeitada assim e principalmente se ela for bonita. Deixou-se levar pra cama mas não sentia a Liv agora, nem por imaginar que ela podia estar melada de amor do outro – Sea não se enojava com essas coisas, em certas situações achava até excitante –, mas porque sabia bem que o desejo dela não era espontâneo, se estivesse no lugar dela não sentiria desejo espontâneo, seduziria pra fazer parar tristezas de momento e transaria pra remediar a situação e não tocar mais no assunto da tensão outra vez. O Sea conhecia bem o significado daqueles carinhos porque foram ensinados por ele, porque era mestre nessa arte, ele-Sea que sempre odiou discutir-a-relação. E ela já estava peladinha, dando um banho de beijos, arranhando de-levinho, se tocando entre as pernas... O Sea agora devia arrancar a calça e pular em cima dela mas não dava, não funcionava nada. “Vem cá, paixão, vem me pegar...” Ah! Não ia dar... Até que seria bom, mas... não dava mesmo. Um desânimo maior que o boa-noite-do-Fantástico deixou o Sea estirado na cama... E a Liv insistindo, beijando mais, abrindo a calça dele e pondo dentro a mãozinha... Nada. Ela puxava a calça e, pra ajudar, ele terminou de tirar. E ela, gata fresquinha, deu beijo na boca e o cheiro de cigarro bateu novamente... Puta-que-pariu!, assim-não-dava mesmo! Mas ela foi beijando no pescoço e no peito e na barriga e onde interessa... Beijo demorado... habilidoso... bem chupado e bem molhado, como ele gostava... Mas nada de o corpo atender... Pensou em dormir mas achou melhor deixá-la fazer o que quisesse pra que não achasse que restou algo por tentar, mas não adiantava: com o Sea esse jogo não dava-certo.
É um raciocínio que agrada o Sea , agrada demais, foi sobre isso que falaram numa das primeiras conversas assozinhada que tiveram. E ele, que já a tinha achado uma menina bem gostosinha (porque era chegadinho em gente escura de beleza diferente), depois disso encanou em desenvolver com ela uma amizade-erótica. O começo de tudo isso foi bom demais, ela não entendia o que ele queria, vivia numa tensão doce entre se entregar e se cuidar cheia de medo e desejo, era só chegar-perto que ela se arrepiava, era só respirar perto que ela se envergonhava. Tesão recolhido em começo de namoro é a melhor coisa que existe e se somar com insegurança, vira uma paixão daquelas! E o Sea prolongou esse sentimento pela a Liv até onde pôde, até se cansar da superficialidade daquilo tudo, porque chegou uma hora que se não entrasse nela, se consumiria no próprio fogo. E pra ele entrar em alguém significa sexo + sono-agarradinho, sendo o sexo a parte dispensável.
O Sea quando se decepcionava com alguém, procurava lembrar do que tinha vivido de bom com a pessoa pra que o relacionamento não se guiasse pela tal decepção. Era o que estava fazendo agora, sentado na janela, olhando a chuva cair do céu marrom-azul-alaranjado da noite de Sampa, com a Rock e o Jazz no colo (a folgada da Blues nunca ficava junto do Sea quando ele queria!). Tava lembrando do começo com a Liv... and missing that times... Esperando por ela, sabia lá que horas ia chegar. Era claro que calava, como podia fazer o contrário?, mas odiava quando ela saía sozinha assim, de quinta-feira-à-noite. Porque era o dia do happie-hour da firma, the fuckin’-drinkin’-day, the fuckin’-Jake-day! Na semana anterior ela voltou passando das duas da manhã... de carro... com ele (o Sea aprendeu a reconhecer o motor do carro do Jake no silêncio do Bixiga). Ela tentou entrar pé-ante-pé pra não acordar o Sea, que nem havia dormido, estava na Internet na hora, de luz acesa e-tudo, mas ela nem deu oi nem-nada, se trancou no banheiro e só saiu de lá de banho tomado, veio abraçar toda bêbada e lânguida e cálida e se largou na cama e se disse cansadinha e nanou feito um anjinho. Não comentou sobre como foi o happie-hour, coisa que ela sempre-sempre fazia, provavelmente porque o que aconteceu lá não podia ser contado e como ela sabia que podia ficar com outras pessoas, se tinha vergonha era porque ficou com quem não devia. Sea becames some kind of superman de tanto esforço que fez pra não pensar nesse assunto, mas não dava. Não dava! Não dava pra entender porque ela entrou na pira-errada de sair com o Jake toda semana se antes ela não ligava pra esses encontros corpo-ativos de firma...
O Jazz estava dormindo e levantou a cabecinha de repente, de olhos muito arregalados, virando a orelha-parabólica que antecipa chegadas. A Rock já ficou tensa na hora, cravou as garras na coxa do Sea pra um impulso quase agressivo, retesou o corpinho e deu um salto olímpico pro chão. Mas que garrinhas doídas, fuckin’-god! Eles perceberam direitinho: Liv and Jake are coming... stoping the car... e a Liv não desce... Fica lá... Tá lá ainda, naquele carrão absurdo... E continua lá... Não dá pra ver o que acontece por causa do reflexo das luzes na chuva e do insulfilm de mau-gosto que a bicha-brega usa nos vidros, mas eles também não podiam ver o Sea porque a janela era lateral... Ah, mas que gentil!, ele abre a porta do carro pra ela, o educadinho-machão, imbecil, manipulador, mother-fucker! E abraça e beija no pescoço, toda dele a Liv, né? Todinha-todinha porque deixa! She must like it! Why? Ah...
É, essa era uma boa pergunta pra fazer e melhor ainda pra calar. O Sea se levantava e ficava na sala, bem no corredor de entrada, pra receber a Liv junto com a Blues que só gostava dela. Quando a porta se abriu e a Liv o viu, deu até um gritinho: “Que susto, quase me mata! Tá parecendo um fantasma brilhando nessa luz negra!” – beijinho de-leve no rosto – “Tudo bem, paixão? Tou cansada, vou tomar banho...”. Não, parasse um minuto, desse um beijo na boca direito, sentasse no colo dele um pouco, tomasse uma taça de vinho... “É que eu já bebi tanto, amor...” – carinha de desânimo dando beijo alcoólico na boca que o Sea teve de intensificar pra que não fosse só um selo. Ela se soltava levezinha e ele a volteava em meneios pra abraçar e ela tornava a se soltar num passo de dança, tão linda... O louro pontual dos cabelos reluzia no escuro enquanto ela girava e ria, feito quando um rodamoinho pequeno faz dançar pluminhas de aves pelo ar, tão linda, tão linda que carecia dela muito, demais, tava até se sentindo mal de tão intensa essa carência. Pousava as mãos nela que se livrava redemoinhada em torno dele, twistin’ and spinin’ and turnin’ and confusin’ him inside, feito uma Iansã... Parasse um pouquinho, sentasse no colo, vá! “Pronto...” – atendeu. Contasse sobre o dia, foi bem? Ah!, sim? E a botecada de hoje? Divertida? Sim? E como tinha sido? “Ah!, botecada, gente falando bobeira, essas coisas...” – e beijava, beijava gostoso. Tá, mas e o Jake? Tava lá também? Ah, sim... A propósito, ela tinha dito uma vez que o Jake só fumava quando bebia, ele ainda fazia isso, né?! “Ai-ai... É, ele sempre fuma quando bebe, coisa de ex-fumante que não se conforma, né?” – riu dengosa, toda lisa e delicada, dava pra entender porque o Jake ficava louco por ela mesmo sendo bicha, sempre tão suavezinha e distraída, nem via o que veneno ruim que tragava o Sea pra dentro que-nem areia movediça tinha vindo com ela, com o cheiro de cigarro no cabelo, no pescoço dela: “Oh! Liv, you’re smelling like a cigarette pack… Please take a shower now…”. Se afastou um pouco do peito dele, olhou com séria cara de quem montou quebra-cabeça mas ainda faltam três pecinhas: “Paixão, me diz uma coisa, é o meu cheiro que tá te incomodando? Ce tá parecendo tão tenso”. Ah!, o cheiro dava enjôo, o Sea nunca gostou de nicotina. “É a nicotina o problema então? Nenhuma ligação com a pergunta que você fez sobre o João?”. O Sea não quis mais disfarçar, não tinha por que, sabia que se arrependeria mas abriu o peito ao furacão: eles andavam transando? A Liv pulou do colo na hora, virou de costas, passou a mão pelos cabelos. “Olha, Sea, francamente... Eu não entendo a razão de ser dessa pergunta, francamente...” Nem precisava perguntar mais nada, já sabia a resposta, sabia que a Liv nem mentiria e nem afirmaria, era o jeito dela de se preservar, de preservar o Sea, de preservar o Jake. All right!
Mas não, não tava tudo bem e nem estaria, alguma coisa doida dentro mexia. Não queria falar nada, não queria, mas a boca tinha vontade própria e, se não isso, pelo menos não respondia bem ao comando da mente. Precisava saber porque ela ainda ficava com o Jake ou porque terminou o casamento se queria ficar com ele. Didn’t make sense, se terminou por causa do Sea, não precisava porque não deixaria de vê-la, continuaria com ela contanto que pudessem ter uma noite toda por semana. Mas não, ela escolheu o Sea, que por isso até saiu de circulação e teve de dispensar o Marcos, caso de mais de dez anos... pra ela continuar servindo de cadelinha pro playboy-filho-da-puta que colonizava ela, alterizava ela, passava todas as primeiras horas do dia com ela e ainda comia de-vez-em-quando. Mas não podia falar nada, não podia, a vida era dela... O Sea se sentia como se tivesse saído numa bela noite de lua e calor pra dormir no relento e uma tempestade de vento e raios o acordasse de assalto, nem acordasse de fato mas quebrasse a tranqüilidade do sonho: sonâmbulo num vendaval. Ele esteve tão certo da paixão da Liv, tão certo!, por tanto tempo!, parecia que nada podia mudar a direção do que ela sentia, que largaria qualquer coisa por prazer de estar com o Sea... E de-repente ela o larga em casa por prazer de qualquer-coisa... Não, não tava tudo bem e queria falar, mas não podia! Precisava se controlar e no fundo não queria – no fundo e no raso também...
“Sea, que carinha é essa, paixão?, fala comigo. Ce tá chorando? Tá sim, uma lagriminha...” – Oh! Sorry, he did’t know... (e realmente não havia notado choro). But... no, nevermind... Fosse só tomar um banho pra dormirem. “Não, paixão, fala o que ce tem... Ce não tá com ciúmes de mim, né?” No, no-way! “E o que tem contigo?”. Era melhor esquecer, já tinha dito!, se falasse, era pior... O que? No, nothing left to say... Não mesmo, não tinha nada pra resolver... Ah, queria mesmo saber... Ah!... Tava bem então, porque tinha saído da casa do Jake? “Ah, Sea, se tem ciúmes dele sim!” Fizesse o favor de não fugir da pergunta já obrigou o Sea a perguntar. “Nossa, que bravo! Desculpa! Ah, porque eu larguei do Jac... Porque eu quis dar um tempo com você, você queria também...” E ela passou a gostar do Jake depois? “Sea, eu sei que você nunca acreditou, mas eu amava o Jac e amo ainda...” – sonâmbulo num vendaval tendo sonhos ruins – “...Ele é uma pessoa muito boa... É que em grande parte das vezes a gente tem que ser injusto pra ser bom, mas ele é bom sim”. E era por isso que ela amava o cara? Mesmo ele tendo comprado ela, mesmo tendo forçada-a-barra na cama tantas vezes, mesmo tendo humilhado, atormentado, sido sádico. Por que ficou amando? Por que? “Porque ele me amou de graça!” - sonâmbulo num vendaval tendo pesadelos tétricos, que se convertiam em mar e rolavam pela cara muito discretamente.
“Paixão, chega disso, não fica assim, vem...” Beijou o rosto, o pescoço. Acariciou as costas por baixo da blusa e acomodou melhor a bundinha nas coxas dele. Beijou na boca, beijinho muito-muito gostoso. “Vem, paixão... Deixa de bobagem, vamo namorar que eu tou com saudade”. O Sea tinha uma “regra-moral”: nunca rejeitar mulher que quer dar mesmo que não estando muito a fim de comer, porque nada é mais humilhante pra uma garota do que ser rejeitada assim e principalmente se ela for bonita. Deixou-se levar pra cama mas não sentia a Liv agora, nem por imaginar que ela podia estar melada de amor do outro – Sea não se enojava com essas coisas, em certas situações achava até excitante –, mas porque sabia bem que o desejo dela não era espontâneo, se estivesse no lugar dela não sentiria desejo espontâneo, seduziria pra fazer parar tristezas de momento e transaria pra remediar a situação e não tocar mais no assunto da tensão outra vez. O Sea conhecia bem o significado daqueles carinhos porque foram ensinados por ele, porque era mestre nessa arte, ele-Sea que sempre odiou discutir-a-relação. E ela já estava peladinha, dando um banho de beijos, arranhando de-levinho, se tocando entre as pernas... O Sea agora devia arrancar a calça e pular em cima dela mas não dava, não funcionava nada. “Vem cá, paixão, vem me pegar...” Ah! Não ia dar... Até que seria bom, mas... não dava mesmo. Um desânimo maior que o boa-noite-do-Fantástico deixou o Sea estirado na cama... E a Liv insistindo, beijando mais, abrindo a calça dele e pondo dentro a mãozinha... Nada. Ela puxava a calça e, pra ajudar, ele terminou de tirar. E ela, gata fresquinha, deu beijo na boca e o cheiro de cigarro bateu novamente... Puta-que-pariu!, assim-não-dava mesmo! Mas ela foi beijando no pescoço e no peito e na barriga e onde interessa... Beijo demorado... habilidoso... bem chupado e bem molhado, como ele gostava... Mas nada de o corpo atender... Pensou em dormir mas achou melhor deixá-la fazer o que quisesse pra que não achasse que restou algo por tentar, mas não adiantava: com o Sea esse jogo não dava-certo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário