12 de dezembro de 2007

12. o mar cantava ao vento


Deixava... Deixava sim, tudo bem. Era só por hoje, nada demais. Nada assustava, ela apenas se descansava, se sentia sem ter que se proteger. Eram muito bons amigos - amigos que se gostam, só isso, uma coisa tão íntima, só dela, um instante particular. E era tudo tão bom... Tão suaves as mãos... e gentis e... Era alguma coisa de que ela precisava, um pouco de fantasia (não dá pra ser tão responsável assim o tempo todo, muita pressão!). Um alumbramento que chegava e desde logo era verão. Tudo muito natural pra ela, como se as longas mãos do Sea fossem mais uma ondulação do seu próprio corpo...
Uhn... Na verdade, achava que não sabia onde o Sea queria chegar com tudo aquilo... Porque aquela história de fazer escultura era muito pouco convincente, mas estava bem, mesmo assim, tudo bem. Deixava, certamente ele a queria bem. Não sabia com que tipo de querer, mas devia ser, tipo, um querer-bem. Porque fazia com que ela se sentisse bonita, bem bonita, bem perfeita em seus desenhos e linhas. Ah, só podia ser coisa de quem gosta, coisa de amigo, uma sensualidade tão inocente. Sempre toque de superfície, suave... A brisa da manhã pairando pelas ondas do mar, quase um sussurro de paixão. Podia gastar todo tempo da vida nesse sentimento de música.

Os sentimentos de música, eles são paixões que entram na alma da gente pelo sensível mais passivo, que é o tímpano... Daí, vai gravando os sons na nossa memória de sentidos e vai alterando a ânimo da gente pra alegre ou pra triste, depende, a gente escolhe a música certa pra cada instante de alma... Mas o bom é que a paixão arrefece e se apaga quando a música acaba. Depois, só lembrança. A Lívi ouve música o tempo todo, especialmente quando tem os sentimentos meio mornos, quando faz falta uma emoção arrebatadora natural, falta que a ela acontece com frequência.

E o Sea, ele era... era uma melodia de toque e de cores e perfumes, tipo uma música sinestésica, tipo um poema simbolista ou tudo isso junto, uma fanomelopéia. Tão bom, nem parecia verdade.

Não pensava em nada, nem em si, nem nele, não tinha como ser melhor. Quando ele tirava as mãos da sua pele dava um froiozinho e um arrepio sempre... "Fine... Are you cold sweety? Tudo bem?" Sim, tudo bem, e sorria. Em geral, se vestia e saía, mas hoje, agorinha mesmo, o Sea a segurava pelas mãos. "I need sleep... Sleep close to you... I think I dreamed about you last night" Dormir, ah, sim... Podia ser, outro dia, menos hoje e ele sorriu amarelo, não muito contente com a resposta. Mas precisava ir, tinha de ser assim por hora - mesmo porque não estava preparada pra nada que não fosse imediato. Ele lhe deu um beijinho nos lábios, como de costume, disse que ligava e que ela ligasse se precisasse...

Mas a dona Olívia não queria ouvir nada, preferia se lembrar da última melodia antes de o dia voltar ao seu normal.

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