Os olhos pretos do Jac eram a coisa mais preta que a Olívia já vira em toda a vida: muito, muito pretos. Bobeasse, nem a cor do universo infinito não era tão preta como os olhos do Jac. Tinha cara de trabalho sério e a Livi achava que era isso que o deixava mais bonito – devia ser o charme dele. Nem entendia como uma pessoa que nem ele, sempre tão sóbria, acabou virando gay, mas um dia ele explicou que o negócio dele tinha mais a ver com namorar uns homens do que ter um estilo gay de ser e viver e vestir e tal. O Jac era assim mesmo, super bem articulado e muito certo em tudo o quanto fazia, tipo uma fortaleza mesmo. Era sim, mas naquela manhã, Olívia ia ver que até muralhas de pedra podem cair sob efeito de ventania constante.
Acordou, era sábado, o Jac não estava ao lado na cama. Estranhou, pensou em voltar a dormir, pensou em levantar pra procurar o Jac e resolveu dormir mais uns minutos... Mas não conseguiu. Levantou-se e foi até a sala e nada de Jac na sala. O escritório então... Não estava sentado diante do computador... Meldelz! Mas o que tinha acontecido com ele que estava deitado no chão enrodilhado daquele jeito? Meldelz! A Livi estava estática, sem saber o que fazer, qualquer coisa lhe parecia ruim. O Jac certamente não estava passando mal e nem morto, estava só dormindo mesmo e pra ter dormido ali, daquele jeito, era que a noite devia ter sido uma das piores da vida. Já tinha um tempo que achava que o Jac tinha tomado ares Kafkianos, nunca tinha nada muito positivo estampado na cara e nem no que falava... E meio tenso, perdido, o próprio Joseph K. E a grande verdade era que se o processo ia mal desse jeito ela tinha uma parcela de responsabilidade relativamente grande. Sentiu um frio de morte lhe correndo a espinha toda. Precisava tirá-lo dali, abaixou-se, tocou o rosto. Ele despertou muito assustado: “Lívia... Nossa, que... Nossa, que dor de cabeça, Lívia! Tou mal...” Mas o que era que ele tinha? Queria que ela fosse buscar alguma coisa? Era melhor sentar um pouco, sair do chão... “Quero nada não, Livi... Mas fica aqui comigo” – o olhar era sonolento e sombrio e frágil, feito de criança doente. Esse era o tipo de olhar que a obrigava a fazer as coisas, mas nesse caso, faria o que ele pedia mesmo sem o tal olhar. Fez com que ele se acomodasse em seu seio e o abraçou, queria dar carinho e cuidados, dizer alguma coisa boa... Mas ele encaixou o rosto entre os dois seios dela e a apertou nos braços com tanta força que ficava difícil pra falar. Daí, ah-meldelz, já era sacanagem dele fazer aquilo, só podia ser! Daí ele chorou com muita e muita vontade! Não soluçava nem nada, só inundava sua blusa com um rio que minava das pedras de ônix que tinha nas órbitas, tipo rio desatado mesmo.
A Livi estava se desmanchando no meio de tantass lágrima, não suportava que alguém sofresse tanto assim por sua causa, estava se descontrolando. Não tinha coragem de pedir que ele parasse e nem podia, mas gostaria. Abraçava, deixava... Deixava chorar, ele devia estar guardando isso havia tempo. Deixava... Deixava também que as defesas contra ele afrouxassem, deixava sim... O que mais haveria de fazer? Era isso que todo aquele choro estava reivindicando... Deixava... Era uma criancinha que vinha numa cesta rio abaixo, como não iria recolher? Como não? O Thomas tinha recolhido a Teresa também, o Thomas, tão leve, cuidou de toda a fragilidade da Tereza, pôs pra dentro de casa e da vida a Tereza e sua pesada mala, em plena Praga em revolução... E esse era o romance de sua vida agora. Livi era Thomas e tomaria sua Tereza pra si, não a deixaria porta afora.
Segurou o rosto do Jac com as duas mãos, ele já parava de chorar e mantinha os olhos fechados, a cabeça baixa. Falasse, falasse com ela, ela estava ali com ele agora... Falasse... “Livi, eu... Eu não sei...” – tornou a chorar um pouco, engasgou, não conseguia dizer o que precisava. Falasse, não tinha problemas, ela ajudaria no que fosse. “Olívia, ah... Ai, Olívia eu, eu amo você... Eu não ia te falar, não queria que você tivesse pena... Mas é que... Eu... Desculpa...” Chorou outra vez. Era de fato a primeira vez que ouvia eu-te-amo do Jac e o desconcerto foi tamanho teve medo de si mesma. Agora sim, agora estava bem fodida! Tereza em seus braços pra sempre, nunca mais conseguiria ser egoísta e ignorar sua vida conjugal... Nunca mais teria o direito de negar nada a ele, nada do que ele realmente precisasse... Agora tinha um marido de verdade, de-fato-e-de-direito, homem pra amar e respeitar até que a morte separasse, era isso, e teria de aprender a amá-lo rapidinho, se não ia ser pior.
Mas por hora tinha que resolver o que fazer com o eu-te-amo do Jac, que ainda estava reverberando pelo ar. Porque dissesse o que dissesse qualquer psicanalista ou filósofo desse mundo, lembrava mais de Espinosa e sabia que quem ama precisa ser amado de volta igualzinho, na mesma medida. E não ia dar pra responder também-te-amo imediatamente porque o Jac tava triste mas não era retardado e não ia acreditar, ia achar que ela dizia por pena e estaria certo, ia ser pior. Nesse caso então era melhor apelar pra outras esferas do amor, era melhor ir beijando e tirando a roupa porque se com sexo se não decide uma guerra, pelo menos se dá uma trégua.
Esteve por cima do Jac todo o tempo porque sabia que ele gostava, mas depois de terminar, deixou que ele se descansasse em seu peito. Fazia tanto tempo que não se deixava tocar pelo Jac que já estava esquecendo como era, o jeito dele, mas sabia que não gostava muito. Só que naquela manhã, toda a melancolia fez do Jac um amante irresistível. Não entendia por que e nem queria, mas era um dos melhores sexos que já tinha experimentado. Foi assim o fim de semana inteiro.
Acordou, era sábado, o Jac não estava ao lado na cama. Estranhou, pensou em voltar a dormir, pensou em levantar pra procurar o Jac e resolveu dormir mais uns minutos... Mas não conseguiu. Levantou-se e foi até a sala e nada de Jac na sala. O escritório então... Não estava sentado diante do computador... Meldelz! Mas o que tinha acontecido com ele que estava deitado no chão enrodilhado daquele jeito? Meldelz! A Livi estava estática, sem saber o que fazer, qualquer coisa lhe parecia ruim. O Jac certamente não estava passando mal e nem morto, estava só dormindo mesmo e pra ter dormido ali, daquele jeito, era que a noite devia ter sido uma das piores da vida. Já tinha um tempo que achava que o Jac tinha tomado ares Kafkianos, nunca tinha nada muito positivo estampado na cara e nem no que falava... E meio tenso, perdido, o próprio Joseph K. E a grande verdade era que se o processo ia mal desse jeito ela tinha uma parcela de responsabilidade relativamente grande. Sentiu um frio de morte lhe correndo a espinha toda. Precisava tirá-lo dali, abaixou-se, tocou o rosto. Ele despertou muito assustado: “Lívia... Nossa, que... Nossa, que dor de cabeça, Lívia! Tou mal...” Mas o que era que ele tinha? Queria que ela fosse buscar alguma coisa? Era melhor sentar um pouco, sair do chão... “Quero nada não, Livi... Mas fica aqui comigo” – o olhar era sonolento e sombrio e frágil, feito de criança doente. Esse era o tipo de olhar que a obrigava a fazer as coisas, mas nesse caso, faria o que ele pedia mesmo sem o tal olhar. Fez com que ele se acomodasse em seu seio e o abraçou, queria dar carinho e cuidados, dizer alguma coisa boa... Mas ele encaixou o rosto entre os dois seios dela e a apertou nos braços com tanta força que ficava difícil pra falar. Daí, ah-meldelz, já era sacanagem dele fazer aquilo, só podia ser! Daí ele chorou com muita e muita vontade! Não soluçava nem nada, só inundava sua blusa com um rio que minava das pedras de ônix que tinha nas órbitas, tipo rio desatado mesmo.
A Livi estava se desmanchando no meio de tantass lágrima, não suportava que alguém sofresse tanto assim por sua causa, estava se descontrolando. Não tinha coragem de pedir que ele parasse e nem podia, mas gostaria. Abraçava, deixava... Deixava chorar, ele devia estar guardando isso havia tempo. Deixava... Deixava também que as defesas contra ele afrouxassem, deixava sim... O que mais haveria de fazer? Era isso que todo aquele choro estava reivindicando... Deixava... Era uma criancinha que vinha numa cesta rio abaixo, como não iria recolher? Como não? O Thomas tinha recolhido a Teresa também, o Thomas, tão leve, cuidou de toda a fragilidade da Tereza, pôs pra dentro de casa e da vida a Tereza e sua pesada mala, em plena Praga em revolução... E esse era o romance de sua vida agora. Livi era Thomas e tomaria sua Tereza pra si, não a deixaria porta afora.
Segurou o rosto do Jac com as duas mãos, ele já parava de chorar e mantinha os olhos fechados, a cabeça baixa. Falasse, falasse com ela, ela estava ali com ele agora... Falasse... “Livi, eu... Eu não sei...” – tornou a chorar um pouco, engasgou, não conseguia dizer o que precisava. Falasse, não tinha problemas, ela ajudaria no que fosse. “Olívia, ah... Ai, Olívia eu, eu amo você... Eu não ia te falar, não queria que você tivesse pena... Mas é que... Eu... Desculpa...” Chorou outra vez. Era de fato a primeira vez que ouvia eu-te-amo do Jac e o desconcerto foi tamanho teve medo de si mesma. Agora sim, agora estava bem fodida! Tereza em seus braços pra sempre, nunca mais conseguiria ser egoísta e ignorar sua vida conjugal... Nunca mais teria o direito de negar nada a ele, nada do que ele realmente precisasse... Agora tinha um marido de verdade, de-fato-e-de-direito, homem pra amar e respeitar até que a morte separasse, era isso, e teria de aprender a amá-lo rapidinho, se não ia ser pior.
Mas por hora tinha que resolver o que fazer com o eu-te-amo do Jac, que ainda estava reverberando pelo ar. Porque dissesse o que dissesse qualquer psicanalista ou filósofo desse mundo, lembrava mais de Espinosa e sabia que quem ama precisa ser amado de volta igualzinho, na mesma medida. E não ia dar pra responder também-te-amo imediatamente porque o Jac tava triste mas não era retardado e não ia acreditar, ia achar que ela dizia por pena e estaria certo, ia ser pior. Nesse caso então era melhor apelar pra outras esferas do amor, era melhor ir beijando e tirando a roupa porque se com sexo se não decide uma guerra, pelo menos se dá uma trégua.
Esteve por cima do Jac todo o tempo porque sabia que ele gostava, mas depois de terminar, deixou que ele se descansasse em seu peito. Fazia tanto tempo que não se deixava tocar pelo Jac que já estava esquecendo como era, o jeito dele, mas sabia que não gostava muito. Só que naquela manhã, toda a melancolia fez do Jac um amante irresistível. Não entendia por que e nem queria, mas era um dos melhores sexos que já tinha experimentado. Foi assim o fim de semana inteiro.
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