Esteve relutante em ir à tal festa por um tempo, tinha um tanto de serviço atrasado pra terminar e sabia que se saísse iria dormir até mais tarde e o trabalho esperaria mais um tempo. Mas a Livi acabou conseguindo convencer propondo uma barganha muito sem-vergonha. “Vou sair de qualquer jeito e queria você lá comigo. E se você for, pode fazer alguma maldade bem sacana no quarto comigo depois” e fazia uma linda carinha de pervertida. Tava bem, o apelo ia funcionar daquela vez. Agora escolhia com todo o cuidado a roupa que usaria, gostava de estar maravilhoso em eventozinhos sociais, especialmente os da Livi, onde só ia gente moderninha e diferente...
“A noiva já terminou?” – estava linda, sorrindo, toda iluminada por um pó brilhante no rosto e no colo, o cabelo dividido, quase uma melindrosa... Deu um abraço por trás e uma mordida nas costas. Gostava muito quando ela tinha esses arroubos de afetividade, era uma brisa de veranico no meio do inverno. Estava adorando o vestido que ela usava, o decote nas costas era muito sedutor. Ela nem respondia, ria simplesmente.
Quando chegou a tal festa percebeu que a diversão morava antes e depois dali, porque já se sentiu deslocado no primeiro cumprimento que recebeu. Um homem mais velho, muito expressivo, que dava beijos intensos em todo mundo em vez de um aperto de mãos. Passados alguns instantes Jac se deu conta de que quase todo mundo por ali fazia a mesma coisa. Povinho alternativo pra cacete! E se sentavam no chão e riam alto e faziam críticas abertas uns aos outros sem quaisquer eufemismos e se sentavam no colo uns dos outros e trocavam selos na boca e se vestiam às vezes com muita elegância e outras sem nenhuma mas sempre dando um jeito de chamar atenção... Era um baile de egos! Um querendo saber mais que o outro sobre moda ou cinema ou teatro ou qualquer outra arte... E a Livi era tão desembaraçada naquele miolinho... Voejava de lá pra cá com o dedinho passando nas paredes, sorridente, quase uma ninfazinha. Achou muito curioso que fosse aquele o mundo dela porque pra ele tudo aquilo era muito artificioso demais! Dava até uma sensação de sufocamento ficar ali parado esperando a Livi retornar de sua volta olímpica pela pista. Mas voltou e lhe deu o braço, o que o deixou menos tenso. E surge então uma mulher extremamente indiana vinda sabia-se lá de onde bem na frente da Livi, vira pra o Jac e diz “Bento é você com sua amante”, beija-a na boca bem rápida e vai passear por aí. Quem era ela? O que era aquilo? “Não sei, Jac, não conheço essa menina.” Fosse quem fosse, era uma sujeitinha muito folgada, não!? “Tá com ciúme?” Não, não era ciúme, mas e se fosse? A vaca tinha de dar um jeito não provocar situações, não? “Deixa... Deixa quieto... Esse povo tem isso de gostar de causar um pouco de impacto mesmo... É que nem aqueles seus amigos falando da viagem que um fez pra Riviera, do carro novo que o outro comprou... Mesma coisa. Cada um aparece com o que tem.” Mas ela, Olívia, ela não tinha tanta gana em aparecer e também gostava das mesmas coisas que aquela gente toda... “Quando a gente é novo, gosta de fazer bonito, gosta de se comparecer. – riu – Foi o Guimarães que disse isso... Mas é verdade, eu acho que já passei da idade...”
Certo, tudo bem. Chegou mais alguém que puxou assunto com ela e Jac resolveu olhar a paisagem, se sentindo meio que antropólogo, meio que psicanalista. Ficava imaginado quais haviam sido os problemas na infância daquela gente... Nossa, havia num canto mais escuro um casal completamente estranho! Era um cara negro, todo bonitão, de blaser e cabelo black-power e uma mulher com um vestido muito sóbrio e reto e um cabelo curto, muito vermelho e bem penteado. O detalhe era que ela tinha mais altura que namorado, que também não era baixo. Era uma coisa impressionante mesmo, Jac estava contente em poder vê-los de longe... Ele sorria muito, gesticulava muito e parecia muito alegre; ela era mais contida, chic, parecia uma bailarina... Tão branca! “Jaqueeee, tou falando com você!” Nossa, desculpasse, tinha se distraído. Estava tudo bem? “Claro! Acabei de experimentar uma cachaça de framboesa fantástica. Quer provar também?” Não, era melhor não, tinha de voltar dirigindo ainda. A propósito, conhecia aqueles dois lá no outro canto? Lá, lá no escuro, o negão e a ruiva alta... Ela olhou e deixou-se gargalhar mesmo. “Nossa, não acredito, que coisa incrível! Eu conheço sim, claro, mas não é uma mulher, é o Siegfrid. Vem, vamos lá dar oi pra eles.”
Foram. Realmente, de perto se via que era um rapaz. “Você não lembra dele, Jac? Era o cara que a gente foi ver uma performance numa balada lá no centro, lembra? Tava todo de David Bowie no dia, você tinha gostado dele, tinha até mandado umas margaritas na mesa dele... Lembrou?” Ah, claro... O David Bowie... Sim, tinha se lembrado, mas nunca, nem em mil anos o reconheceria. Naquela noite tinha ficado um pouco bêbado, viu o cara dançando no palco, achou interessante. No fim da performance o cara abaixou e mandou um beijinho com o dedo e o Jac, que tinha então uns três ou quatro meses de casado, estava desesperado pra beijar um gato... Mas acabou não beijando não. Uma amiga da Livi apareceu com um cartão, disse que o tal David Bowie tinha dito pra ele ligar, pra aparecer na escola de dança em que ele trabalhava pra ganhar uma... aula. O Jac queria muito ir – assistir aula de dança o cacete! – mas só naquela noite, já não achava que compensava o crime no dia seguinte e o problema não era a Livi gostar ou achar ruim, era só que ele, João Carlos, não estava disposto a viver uma mentira com ela, queria ser o melhor marido possível. No final, ela é que foi até lá e acabou fazendo o curso.
“Oi Sea, tudo bem?”, e como os outros, o Sea a recebia com um maldito selo na boca. “Esse é o João Carlos, o meu bofe... A gente chama ele de Jac”. Sea olhou nos olhos, com cara de malícia: “Sim, eu sei quem ele é... Então, e esse aqui é o Marcos, meu namorado”. O tal Marcos sorria muito simpático, parecia sincero e menos afetado que o resto das pessoas. O Sea segredou qualquer coisa pra Livi, depois pediu: “Ãh, Jake, eu poderia pegar sua mulher pra mim um tempinho – riu – Te prometo que devolvo limpinha...” Claro, levasse... O folgado-filhodumaputa tinha uma cara muito arrogante e era bem mal-educado por ir falar baixinho com ela por ali e deixar o namorado e ele, marido dela, pra escanteio... Mas estava bem, daria um jeito nisso depois... “Não fica queimado, João! O Sea é assim mesmo, ele gosta muito de aparecer...” – riu. Não, tava tudo bem – ao menos era o que dizia mas nem tinha intenção de fazer o Marcos acreditar. O Sea era assim sempre então? “Assim como? Vaidoso? Sim, sempre... E ele deve ter ficado com ciúmes de você com a Olívia também, sabe? De ela ter de dar mais atenção pra você do que pra ele...” Mas o Jac era marido dela, isso não tinha sentido. “As pessoas não precisam fazer sentido, João, e o Sea faz questão de não fazer mesmo.” Realmente, percebia-se pelas roupas dele também. Usava vestido sempre? “Não, na verdade não. Mas já teve vez que ele ficou usando um tempo. Esse aí ele viu uma mulher numa revista usando e resolveu copiar o molde, mas deu uns toques meio Matrix, tá vendo...? Uma coisa meio igual batina, só que dá mais liberdade de movimento. Ele mesmo sentou na frente da máquina e costurou... Ele é criativo...” O cara já estava fazendo cara de bobo apaixonado, falando de como o outro era bacana, mas o Jac não tinha o menor ânimo pra escutar as exaltações. Olhava pra Livi, ela se divertia, ria muito. O cara da batina estava com a mão no decote das costas dela... Agora se encaravam, pareciam ter uma proximidade incomum de almas. Chegavam mesmo a ter os rostos parecidos, os olhos muito grandes, narizes longos e estreitos, bocas pouco rasgadas, só as cores diferiam, ela bem morena, ele bem branco... “É, eles são até parecidos mesmo, são da mesma fôrma, né, João. Olha, até os trejeitos...” E ele, Marcos, não tinha ciúmes do namorado que saía por aí beijando todo mundo? “Não, não dá pra ter ciúmes do Sea, não. Mas na verdade eu nunca fui muito ciumento. E nosso caso é bem sossegado, se ele toca ou não um puteiro o problema é dele. Mas pra você ter me perguntado isso é que você tá com ciúme.” Estava sim, estava incomodado. Porque nem em mil anos ela se alegraria ao lado dele como estava naquele momento. Mas não diria isso, não queria ser desagradável ou emotivo no meio de uma... festa! Saco!
Eles voltavam, voltavam de braços dados deslizando e rindo e olhando pra trás. A Livi quase tropeçou no Marcos sem olhar por onde andava, teve o Jac de escorar pra ela não cair. Como o braço dela ainda estava preso no Sea, também teve de pedir permissão pra pegar de volta a própria esposa. “Prontinho, Jake, está entregue e a salvo... a sua... mulher...” – ele olhava bem cínico e muito discretamente apertou a bunda do Jac, que não acreditou que aquilo poderia estar acontecendo e perdeu a paciência: foi logo apertando o braço do cara e falando baixo e incisivo “Você é muito folgado, sabia... Tinha que apanhar um pouco pra ficar esperto... Mas eu não vou te bater... Porque eu acho que é isso mesmo que você tá querendo, vou ter que pensar em outra coisa”. O Sea olhava sem mudar a expressão do rosto, era mesmo um ator, não seria muito fácil lidar com ele. E algum idiota ainda o salvou da situação. “Mas escuta, ô showman, você não vai dançar pra gente não? Tinha prometido, achei que essa roupinha bonita era pra isso”...
“A noiva já terminou?” – estava linda, sorrindo, toda iluminada por um pó brilhante no rosto e no colo, o cabelo dividido, quase uma melindrosa... Deu um abraço por trás e uma mordida nas costas. Gostava muito quando ela tinha esses arroubos de afetividade, era uma brisa de veranico no meio do inverno. Estava adorando o vestido que ela usava, o decote nas costas era muito sedutor. Ela nem respondia, ria simplesmente.
Quando chegou a tal festa percebeu que a diversão morava antes e depois dali, porque já se sentiu deslocado no primeiro cumprimento que recebeu. Um homem mais velho, muito expressivo, que dava beijos intensos em todo mundo em vez de um aperto de mãos. Passados alguns instantes Jac se deu conta de que quase todo mundo por ali fazia a mesma coisa. Povinho alternativo pra cacete! E se sentavam no chão e riam alto e faziam críticas abertas uns aos outros sem quaisquer eufemismos e se sentavam no colo uns dos outros e trocavam selos na boca e se vestiam às vezes com muita elegância e outras sem nenhuma mas sempre dando um jeito de chamar atenção... Era um baile de egos! Um querendo saber mais que o outro sobre moda ou cinema ou teatro ou qualquer outra arte... E a Livi era tão desembaraçada naquele miolinho... Voejava de lá pra cá com o dedinho passando nas paredes, sorridente, quase uma ninfazinha. Achou muito curioso que fosse aquele o mundo dela porque pra ele tudo aquilo era muito artificioso demais! Dava até uma sensação de sufocamento ficar ali parado esperando a Livi retornar de sua volta olímpica pela pista. Mas voltou e lhe deu o braço, o que o deixou menos tenso. E surge então uma mulher extremamente indiana vinda sabia-se lá de onde bem na frente da Livi, vira pra o Jac e diz “Bento é você com sua amante”, beija-a na boca bem rápida e vai passear por aí. Quem era ela? O que era aquilo? “Não sei, Jac, não conheço essa menina.” Fosse quem fosse, era uma sujeitinha muito folgada, não!? “Tá com ciúme?” Não, não era ciúme, mas e se fosse? A vaca tinha de dar um jeito não provocar situações, não? “Deixa... Deixa quieto... Esse povo tem isso de gostar de causar um pouco de impacto mesmo... É que nem aqueles seus amigos falando da viagem que um fez pra Riviera, do carro novo que o outro comprou... Mesma coisa. Cada um aparece com o que tem.” Mas ela, Olívia, ela não tinha tanta gana em aparecer e também gostava das mesmas coisas que aquela gente toda... “Quando a gente é novo, gosta de fazer bonito, gosta de se comparecer. – riu – Foi o Guimarães que disse isso... Mas é verdade, eu acho que já passei da idade...”
Certo, tudo bem. Chegou mais alguém que puxou assunto com ela e Jac resolveu olhar a paisagem, se sentindo meio que antropólogo, meio que psicanalista. Ficava imaginado quais haviam sido os problemas na infância daquela gente... Nossa, havia num canto mais escuro um casal completamente estranho! Era um cara negro, todo bonitão, de blaser e cabelo black-power e uma mulher com um vestido muito sóbrio e reto e um cabelo curto, muito vermelho e bem penteado. O detalhe era que ela tinha mais altura que namorado, que também não era baixo. Era uma coisa impressionante mesmo, Jac estava contente em poder vê-los de longe... Ele sorria muito, gesticulava muito e parecia muito alegre; ela era mais contida, chic, parecia uma bailarina... Tão branca! “Jaqueeee, tou falando com você!” Nossa, desculpasse, tinha se distraído. Estava tudo bem? “Claro! Acabei de experimentar uma cachaça de framboesa fantástica. Quer provar também?” Não, era melhor não, tinha de voltar dirigindo ainda. A propósito, conhecia aqueles dois lá no outro canto? Lá, lá no escuro, o negão e a ruiva alta... Ela olhou e deixou-se gargalhar mesmo. “Nossa, não acredito, que coisa incrível! Eu conheço sim, claro, mas não é uma mulher, é o Siegfrid. Vem, vamos lá dar oi pra eles.”
Foram. Realmente, de perto se via que era um rapaz. “Você não lembra dele, Jac? Era o cara que a gente foi ver uma performance numa balada lá no centro, lembra? Tava todo de David Bowie no dia, você tinha gostado dele, tinha até mandado umas margaritas na mesa dele... Lembrou?” Ah, claro... O David Bowie... Sim, tinha se lembrado, mas nunca, nem em mil anos o reconheceria. Naquela noite tinha ficado um pouco bêbado, viu o cara dançando no palco, achou interessante. No fim da performance o cara abaixou e mandou um beijinho com o dedo e o Jac, que tinha então uns três ou quatro meses de casado, estava desesperado pra beijar um gato... Mas acabou não beijando não. Uma amiga da Livi apareceu com um cartão, disse que o tal David Bowie tinha dito pra ele ligar, pra aparecer na escola de dança em que ele trabalhava pra ganhar uma... aula. O Jac queria muito ir – assistir aula de dança o cacete! – mas só naquela noite, já não achava que compensava o crime no dia seguinte e o problema não era a Livi gostar ou achar ruim, era só que ele, João Carlos, não estava disposto a viver uma mentira com ela, queria ser o melhor marido possível. No final, ela é que foi até lá e acabou fazendo o curso.
“Oi Sea, tudo bem?”, e como os outros, o Sea a recebia com um maldito selo na boca. “Esse é o João Carlos, o meu bofe... A gente chama ele de Jac”. Sea olhou nos olhos, com cara de malícia: “Sim, eu sei quem ele é... Então, e esse aqui é o Marcos, meu namorado”. O tal Marcos sorria muito simpático, parecia sincero e menos afetado que o resto das pessoas. O Sea segredou qualquer coisa pra Livi, depois pediu: “Ãh, Jake, eu poderia pegar sua mulher pra mim um tempinho – riu – Te prometo que devolvo limpinha...” Claro, levasse... O folgado-filhodumaputa tinha uma cara muito arrogante e era bem mal-educado por ir falar baixinho com ela por ali e deixar o namorado e ele, marido dela, pra escanteio... Mas estava bem, daria um jeito nisso depois... “Não fica queimado, João! O Sea é assim mesmo, ele gosta muito de aparecer...” – riu. Não, tava tudo bem – ao menos era o que dizia mas nem tinha intenção de fazer o Marcos acreditar. O Sea era assim sempre então? “Assim como? Vaidoso? Sim, sempre... E ele deve ter ficado com ciúmes de você com a Olívia também, sabe? De ela ter de dar mais atenção pra você do que pra ele...” Mas o Jac era marido dela, isso não tinha sentido. “As pessoas não precisam fazer sentido, João, e o Sea faz questão de não fazer mesmo.” Realmente, percebia-se pelas roupas dele também. Usava vestido sempre? “Não, na verdade não. Mas já teve vez que ele ficou usando um tempo. Esse aí ele viu uma mulher numa revista usando e resolveu copiar o molde, mas deu uns toques meio Matrix, tá vendo...? Uma coisa meio igual batina, só que dá mais liberdade de movimento. Ele mesmo sentou na frente da máquina e costurou... Ele é criativo...” O cara já estava fazendo cara de bobo apaixonado, falando de como o outro era bacana, mas o Jac não tinha o menor ânimo pra escutar as exaltações. Olhava pra Livi, ela se divertia, ria muito. O cara da batina estava com a mão no decote das costas dela... Agora se encaravam, pareciam ter uma proximidade incomum de almas. Chegavam mesmo a ter os rostos parecidos, os olhos muito grandes, narizes longos e estreitos, bocas pouco rasgadas, só as cores diferiam, ela bem morena, ele bem branco... “É, eles são até parecidos mesmo, são da mesma fôrma, né, João. Olha, até os trejeitos...” E ele, Marcos, não tinha ciúmes do namorado que saía por aí beijando todo mundo? “Não, não dá pra ter ciúmes do Sea, não. Mas na verdade eu nunca fui muito ciumento. E nosso caso é bem sossegado, se ele toca ou não um puteiro o problema é dele. Mas pra você ter me perguntado isso é que você tá com ciúme.” Estava sim, estava incomodado. Porque nem em mil anos ela se alegraria ao lado dele como estava naquele momento. Mas não diria isso, não queria ser desagradável ou emotivo no meio de uma... festa! Saco!
Eles voltavam, voltavam de braços dados deslizando e rindo e olhando pra trás. A Livi quase tropeçou no Marcos sem olhar por onde andava, teve o Jac de escorar pra ela não cair. Como o braço dela ainda estava preso no Sea, também teve de pedir permissão pra pegar de volta a própria esposa. “Prontinho, Jake, está entregue e a salvo... a sua... mulher...” – ele olhava bem cínico e muito discretamente apertou a bunda do Jac, que não acreditou que aquilo poderia estar acontecendo e perdeu a paciência: foi logo apertando o braço do cara e falando baixo e incisivo “Você é muito folgado, sabia... Tinha que apanhar um pouco pra ficar esperto... Mas eu não vou te bater... Porque eu acho que é isso mesmo que você tá querendo, vou ter que pensar em outra coisa”. O Sea olhava sem mudar a expressão do rosto, era mesmo um ator, não seria muito fácil lidar com ele. E algum idiota ainda o salvou da situação. “Mas escuta, ô showman, você não vai dançar pra gente não? Tinha prometido, achei que essa roupinha bonita era pra isso”...
“Eles querem que eu dance, Jake. A gente tem que atender o público. Você me deixa ir dançar?” – sorria muito falsamente e, pra Livi – “Se lembra do que eu te ensinei de Zouk, né? Vai ter uma provinha a-go-ra!”. Pediu-se música, dançavam no meio do salão, todo mundo em volta olhando os dois... Ele a conduzia pelos giros e requebros da dança como se ela fosse uma pluma e toda uma atmosfera de sedução pairava baixa em redor deles. Era bonito de ver, ela tão linda e forte, os músculos marcados debaixo de tecido fino do vestido e ele com uma elegância de mestre-sala. Bonito sim, bonito demais. Era naquele movimento que ela se largava, que voava... Ao fim da dança todo mundo aplaudia muito, ela sorria e escondia o rosto e o Sea agradecia os aplausos feito um verdadeiro astro. Naquele instante o Jac entendeu que o corpo da Livi era solto e leve e que prendê-lo seria agarrar uma nuvem com uma sacola de supermercado.
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