12 de dezembro de 2007

15. a suavidade


O Jac era um cara que acreditava em deus, mas só tinha seus apartes com o divino quando as coisas iam mal. No fundo, a conversa dele com deus era quase um blábláblá com algum alterego pra por em questão o dar-certo ou não de algum assunto. Agora, por exemplo, estava queimando uma das mãos com uma xícara de capuccinno fervente e a outra com a ponta de um baseado, enquanto seus olhos da alma procuram a branca pomba do divino voando pelos ares astrais. Ele não entende por que é que quando as coisas vão indo bem precisa acontecer alguma merda pra estragar absolutamente tudo. Estava ali a Lívi, no quarto bem ao lado, dormindo feito um anjinho em cima duma nuvem. Linda de ver! Meuldelz, paizinho-nosso-que-tá-céu, dissesse: como era que aquela mulher podia fugir com tanta facilidade? Agora que estava tudo bem entre os dois ela ia... Nossa, que vacilo esse! Havia demorado mais de um ano, um ano e quatro meses pra ser exato, todo esse tempo pra pôr esse casamento em ordem. E agora, justamente agora que já não brigavam por qualquer coisa e que estavam se entendendo ou pelo menos se aceitando como eram e que na cama iam muito-bem-obrigado, bem agora aparece essa porra de viagem que ela precisava fazer com os amiguinhos do teatro... e o Jac não podia acompanhar. E era obrigado a permitir, afinal de contas já tinha deixado e dito que não iria junto muito tempo atrás, muito tempo mesmo, uns cinco meses pelo menos, quando ainda não estavam tão bem assim e queria mais que ela arranjasse mesmo alguma ocupação que não fosse perturbar. Pois bem, muito bem! Pai-nosso-que-está-no-céu mandou um castigo filhodaputa por toda sacanagem que o Jac já fez na vida: pai-nosso ia fazer com que ela se divertisse pra caralho com o amiguinho dela, e com toda permissão do mundo! Mas que inferno, que merda! Ela poderia transar com o tal do Siegfried o quanto quisesse, três noites seguidas, maior lua-de-mel, e sem culpa, mas-que-beleza! Sem culpa porque o imbecil do Jac, num momento de desatenção deixou ela ir viajar e em outro, ainda na primeira semana de casado, disse que ela poderia transar com outras pessoas, contanto que fosse totalmente discreta. Nossa! Estava se sentindo um idiota e por responsabilidade própria. Ah, pai-do-céu, desse uma forcinha e não deixasse muita chateação despencar na cabeça do Jac por conta dessas burradas, ou fazesse com que ela achasse o gringo um lixo na cama, em-nome-de-jesus-amém!

O baseado já havia acabado e o capuccinno esfriava. Tomou num gole, antes que o trabalho de montar a cafeteira se tornasse tão inútil quanto sua conversa com deus. E não ia fazer mal enrolar outro pra fumar, né? Não ia trabalhar mesmo... O problema era dixavar o fumo já que tinha queimado as pontas dos dedos. Pensou em pegar uma tesoura mas desistiu; sim, doía e o fumo muito prensado estava fazendo arder demais, mas até que não era ruim. Uma dorzinha de nada, até distraía... Mas nada melhor pra distrair do que o corpinho musculoso da Lívi só de calcinha se espreguiçando, bem ali, na porta do escritório. Ah, meldelz! Corpo lindo, tão perfeitinho, pelezinha marrom sem nenhuma manchinha sequer...
"Bom diiiiia, lindo! Já vai fumar a essas horas?" – bocejo comprido, mãozinha na frente da boca. Vixi, estava de pé fazia tempo. Tinha ido à academia e malhado um pouco, tinha ido à padoca porque o cream cheese havia acabado, tinha posto em ordem uma papeladinha, estava ali tomando café agora, já tinha até fumado um antes, estava queimado no dedo inclusive...
“Tá bom, então vamo-logo tacar fogo nisso aí que hoje eu não tenho porra-nenhuma pra fazer e tou a fim de ficar lesada”.

Ela mesma acendeu. Não tinha o hábito de fumar, dizia que dava muito sono, mas às vezes até se excedia. Pegava carinhosa a mão do Jac e o levava pra sala, pedia pra se deitarem juntos no sofá. Pro Jac, o estado natural da Lívi estava expresso na carinha que ela fazia naquela hora: olhos poentes perdidos no nada, rosto descansado, a boquinha molhadinha... Mas era foda! Pra baixar os olhos um pouco só e ficar admirando os seios dela era um palitinho. Como eram lindos e firmes e grandes e... E estavam ali, livres, pra qualquer um que precisasse deles. Mas que droga! O Jac queria saber em que ela pensava: seria por acaso em dar pro outro? Ah, não, tomara que não... Mas e se estivesse? E se ela transasse mesmo? Não, isso ia acontecer de qualquer jeito. A questão era outra: e se ela gostasse? "Lindinha, ce vai dar pro seu professor que eu tou sabendo, mas ce promete pra mim que, se gostar muito, nem vai me deixar saber?" Só depois de ter falado foi que o Jac percebeu o ridículo do que estava pedindo (maconha era mesmo um problema, ele perdia a atenção quando estava viajando muito e ficava mais sincero que o recomendável). E a mulher também devia ter achado o pedido muito estranho, porque tossiu e fez cara-de-interrogação. "Mas quem te disse que eu vou dar pro Sea?" Ah, era claro que ia, não precisa ser um gênio pra perceber a tensão sexual que existia entre eles. E ela se espantava: "Tensão... tensão sexual? Que é isso..." O Jac sabia que a Livi não mentia quase nunca e, quando não queria falar a verdade, enrolava até que se mudasse de assunto. Poderia até parar de falar naquilo, mas uma maldade muito familiar levava o Jac a não conseguir. Então, tinha sim uma tensão sexual entre os dois que já devia estar à flor da pele, inclusive. Qualquer um via isso... Pelo jeito com que se olhavam e dançavam, tanta conectividade, tanta afinidade... Até se mexiam de jeitos parecidos...

"Então, lindo, mas você sabe que o Sea é gay, né?" Sabia, era claro que sim, mas até aí, ele, Jac, também era. E daí? "Daí que eu não tou pensando em dar pra ele, é isso. Não acho que vai rolar sexo com o Sea. Pára com isso".

O Jac preferiu se calar sobre o assunto, mesmo sabendo que a Livi estava “enganada” quanto a dormir com o cara. Era melhor pensar em outra coisa, nos peitinhos bonitinhos dela, por exemplo. Ela notou o que ele olhava e veio se sentar no colo, com carinha de tarada. Mas não, o Jac não estava afim. "Por que não, lindo? Ce é sempre tão animadinho..." Nada especial, só não estava afim, gostava de olhar os peitos dela porque eram bonitos, mas não era tesão não. "Ah, que fofinho!" Ela cobria de beijos seu rosto e pescoço, às vezes se comportava feito menina que tinha aprontado e queria agradar o pai pra não haver zanga. Deu um beijo com a boca bem molhada, bem molinha e meldelz, como era bom aquele beijinho! O Jac gostava muito de sexo, tinha larga preferência por homens, mas transar apaixonado superava qualquer experiência sempre... E ele estava muito apaixonado. "Vem cá, vai, só um pouquinho..." Olhando pra aquela carinha, nem tinha como dizer não, mas ela teria de dar uma ajudinha, tudo bem? Sim? Ah... E, desculpasse a insistência mas... Se ela por um acaso transasse com o Sea, prometia que voltava pra ele depois? Que voltava sempre?
"Tá bom, gatinho, agora vem cá..." 

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